No Natal, cuidar é o maior presente, mesmo quando todos desembrulham os seus. Enquanto muitos preparam a mesa, há quem prepare o coração para cuidar, mesmo quando todos celebram. Enquanto grande parte da sociedade organiza-se para viver o Natal e o fim de ano com mesas recheadas, luzes cintilantes e reencontros familiares, nos bastidores dos hospitais e instituições de longa permanência, a rotina não abranda. Pelo contrário: para os profissionais de saúde, especialmente da enfermagem, dezembro é um período que exige ainda mais sensibilidade, organização e humanidade. E, neste contexto, a gestão em saúde torna-se essencial para assegurar que o cuidado não é interrompido, mesmo quando tudo à volta parece festa.
As celebrações natalícias trazem desafios muito específicos para quem coordena equipas. De um lado, os gestores procuram conciliar o direito legítimo dos profissionais ao descanso. Do outro, enfrentam a responsabilidade ética de garantir a continuidade da assistência, lidar com escalas reduzidas, sobrecarga emocional e um aumento da procura por cuidados, desde infeções sazonais até acidentes domésticos e excessos festivos. O equilíbrio entre serviço e bem-estar torna-se, nesta fase, um verdadeiro exercício de liderança e justiça organizacional.
Organizar as escalas é, talvez, o maior desafio logístico da quadra natalícia. Muitos desejam, com toda a legitimidade, estar junto da família. No entanto, os serviços de saúde não param, e cabe à gestão assegurar que cada turno esteja devidamente composto. Em diversas instituições recorre-se a revezamentos entre Natal e Ano Novo, sorteios transparentes ou incentivos para quem trabalha nas datas festivas. Estas decisões não são apenas administrativas: são atos éticos que reforçam confiança, respeito e coesão interna.
Mas gerir saúde vai muito além da distribuição de horários. É sobretudo cuidar de quem cuida. Nesta altura do ano, as emoções ganham intensidade. Há profissionais que lidam com a ausência da família; outros enfrentam lutos; e muitos sentem o peso da solidão ou do dever. É neste terreno sensível que a gestão humanizada atua: criando espaços de escuta, promovendo gestos simples de reconhecimento e lembrando que, antes de serem profissionais, são pessoas.
No plano assistencial, o desafio é manter a qualidade dos cuidados com equipas reduzidas. Isto exige planeamento rigoroso, formação contínua e um ambiente que valorize o espírito de equipa. Uma equipa acolhida e reconhecida oferece um cuidado mais atento, algo crucial para quem passa estas datas hospitalizado, fragilizado ou em sofrimento. Nesta quadra, o conceito de cuidar ganha um sentido mais profundo: um olhar, uma palavra, um gesto de ternura podem fazer toda a diferença. A gestão tem ainda a responsabilidade ética de alimentar esta cultura do cuidado, reforçando valores como solidariedade, equidade, responsabilidade e respeito. O Natal nos serviços de saúde não é apenas mais um período exigente: é uma oportunidade de reafirmar a essência do serviço público e a nobreza da profissão.
A saúde não entra em pausa. O compromisso com a vida é permanente. Por isso, reconhecer e agradecer o esforço das equipas de enfermagem, médicos, auxiliares, técnicos, gestores e tantos outros profissionais é um ato de profunda gratidão coletiva. São eles que mantêm acesa a chama do cuidado quando todos celebram, e é neles que o verdadeiro espírito de Natal encontra o seu lar mais silencioso, mas também o mais luminoso.