Ouvir um “não”, que implica não ter e não conseguir algo que queremos, não é fácil e dói. Todos nós tornamo-nos pequenos “monstros” nesse momento.
Estamos em semana de eleições e o partido em que vamos votar pode refletir como estamos em relação à nossa frustração. Há partidos com candidatos que parecem representar “pessoas frustradas”. As sucessivas frustrações podem transformar-nos em grandes “monstros”.
Ouvir discursos racistas e xenófobos de pessoas que conheci na vida fez-me olhar para o percurso delas e perceber o surgimento de um pequeno “monstro” após cada frustração que a vida lhes trouxe, um “monstro” que agora cresceu, com locus de controlo externo, e que pensa: “Não tenho mais por causa de X e Y!”.
A minha mãe dizia que a vida era mais larga do que comprida. O “não” e a frustração estão nessa largura da vida. Mas vejo, cada vez mais, as pessoas menos preparadas para lidar com a frustração.
Costumo dizer aos meus filhos, de 22 e 19 anos, que foram menos treinados para se frustrar do que a minha geração. Quando era miúda e ia a um supermercado, se não houvesse o que eu queria, saía frustrada. E agora?
Há dias, partilhei com uma jovem que um produto que eu usava estava descontinuado, ao que ela respondeu: “Vai à net e compra em vários sites, assim ficas com muitos por muito tempo”.
Sabemos que a verdadeira causa das guerras e dos conflitos será sempre o facto de um país não fazer o que outro quer.
À custa de não sabermos lidar com as frustrações, criamos “monstros” que matam.
Neste momento, o mundo é comandado por homens idosos, que representam países em guerra. Alguns já provaram que não se desenvolveram bem na largura da vida, porque se tornaram verdadeiros “monstros”.
Isso não me surpreende. O que me surpreende são os seus seguidores. Nenhum “monstro” se cria, nem tem poder sozinho. Parece que os “monstros” têm mais força do que os outros. Mas não têm.
Sabemos que os piores “monstros” são os narcisistas. A formação de um narcisista começa na infância, numa criança que não foi vista nas suas verdadeiras necessidades.
As novas definições de trauma falam da criação do trauma na invisibilidade da criança perante os seus educadores.
A criança não foi reconhecida na sua individualidade e singularidade. Em adulta, não fica saciada, porque tenta preencher-se ao lado da sua verdadeira necessidade, enganando-se a si própria sem ter noção disso. Ter poder pode ser sentido como uma necessidade para um narcisista.
Mas, na verdade, estará sempre desencaixado da necessidade.
Devido a esse desencaixe, inconsciente, questionar um narcisista é praticamente impossível. Viver ao seu lado só é possível em segundo plano, ou adoecendo.
O que fazem os idosos Putin, Trump e Netanyahu a quem os questiona ou discorda deles?
Em que é que os seus seguidores se identificam? Na força antidemocrática?
Os únicos que os podem parar são os próprios seguidores, deixando de os seguir.
Já existiram homens assim na história e foram derrotados por quem defende a democracia sem “supremacia racial”. Em democracia basta não votar neles.
Devíamos aplaudir quem os tenta derrotar, em vez de criticar. Aos que vão por mar ou por terra, mas sempre, com a face à vista...
É verdade que comportamentos corajosos vão sempre frustrar os covardes, mas a história não se fez de covardes.
No próximo ato eleitoral, vamos votar nos partidos humanistas onde cada um de nós é considerado.
“Educa-se com o exemplo” Eduardo Sá
Quem sobreviverá?
“Quem for mais espontâneo!” Moreno