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Artigo de Opinião

Gestora de Projetos Comunitários

27/08/2022 08:00

Até aqui, a 'habilitação profissional', que exigia um mestrado de ensino aos licenciados pós Bolonha, era a condição base para se dar aulas. Importa considerar que a possibilidade de lecionar apenas com 'habilitação própria' (só licenciatura) já existia para os licenciados pré Bolonha.

No meio de todo o aparato em torno dos "requisitos mínimos de formação científica" que deverão ser exigidos a todos aqueles que venham a dar aulas só com o grau de licenciados, parece ser conveniente esquecer que estamos a falar do melhor que o nosso país tem: o seu futuro.

Diz o GR que esta 'exceção' tem como objetivo "rever as habilitações para a docência" de forma a alargar o leque disponível de candidatos, combatendo a atual "escassez de professores" - confesso que me ultraja o à-vontade com que se fala em escassez de professores quando continuam a ser demasiados os professores em situação precária.

Será que tudo se pode justificar sob a pretensa necessidade de colmatar um problema identificado há demasiados anos? Não, não me parece. Esta solução não resolve o problema estrutural, que é a falta de professores (qualificados para o efeito).

Os critérios de qualidade do ensino são, com esta decisão, postos em causa. Desvaloriza-se uma luta de décadas pela valorização da classe docente, degrada-se a qualidade pedagógica e deixa de se garantir o sucesso escolar dos nossos alunos - o mesmo sucesso escolar que depende dos resultados de vários testes de aferição e exames nacionais que cumprem critérios rigorosos. O que me leva, inevitavelmente a questionar se o próximo passo será o de erradicar a possibilidade de reprovar um aluno?

Não há nada de pedagógico em erradicar critérios de qualidade para colmatar falhas de recrutamento, especialmente, quando é uma decisão não negociada com os Sindicatos.

Sejamos claros: não, nem todos podemos dar aulas. Estamos a moldar o futuro destas pessoas, destas crianças. E isso acarreta responsabilidades e tem consequências. Quem vai lidar com isso? Não será, certamente, quem tomou esta decisão de dividir a classe docente em 'professores' e 'mais ou menos professores'.

Disse, e bem, Guterres, "a educação deve ser a paixão de todos os governos", e mais ainda os governos de maioria absoluta. Todos sabemos o que isto diz de quem tomou esta decisão (meramente) política.

Mas mais relevante ainda do que diz sobre quem tomou esta decisão, espero que signifique algo para os professores que tanto investiram na sua formação e que agora são ultrapassados - não se calem, não se subjuguem, lutem pelos vossos direitos!

Permitam-me que deixe uma palavra final de solidariedade a Sanna Marin. Tenho seguido, com esperança, esta nova geração de políticos. Têm coragem para tomar decisões difíceis, sem excesso de retórica. S. Marin representa uma nova geração de políticos que, apesar da chantagem e intimidação de Putin, lidera o processo histórico de adesão do seu país à NATO. É mulher, tem uma vida além da política, uma vida pessoal que muitos teimam em tornar pública para a coartar nos seus direitos de ser quem quiser ser nas suas horas livres. Mas mantém-se firme. Resta-me apenas desejar que apareçam mais Sanna Marin neste mundo.

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