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Artigo de Opinião

Psiquiatra

27/04/2022 08:00

O coletivo português deu passos importantes em direção à liberdade em 1974. Ao longo das décadas seguintes, adaptámo-nos à responsabilidade da liberdade. Apenas a 24 de março de 2022, ultrapassámos o tempo vivido em democracia vs. ditadura. Mas ainda estamos aquém do exercício da democracia, manifesto pelo desinteresse massivo na política. Reflete-se este estado na abstenção eleitoral e em comentários frequentes de descrédito. Acompanhem-me nesta breve reflexão sem julgamento e poderão fazer sentido as duas grandes afirmações deste texto.

Só existe verdadeira Liberdade se existir Saúde Mental

Se pensarmos em doença vs. saúde, podemos comparar opressão vs. liberdade. A doença mental tolda a nossa capacidade de analisarmos a realidade e tomarmos decisões para a nossa vida. Quando estamos sob a influência de uma depressão, vemos o mundo mais negativo do que ele é. No caso da ansiedade, torna-se mais assustador. Dos episódios maníacos da doença bipolar, tudo é conquistável, no caso de um episódio psicótico da perturbação esquizofrénica, ameaçador e incompreensível. Também na área do desenvolvimento da personalidade, apenas se conseguirmos equilibrar os nossos impulsos primários com a contenção e o mérito da razão, conseguimos pensar antes de agir. Também no âmbito alargado da saúde mental encontramos a capacidade de entendermos não só o nosso mundo interno, como o mundo interno dos outros, com a inteligência emocional e social. Desenvolvemos a empatia, a tolerância e a compreensão e afastamo-nos do egoísmo e narcisismo. Só quando dispomos destas capacidades, exercitando-as para além do eu e englobando o todo humano, conseguimos ser livres. Ser livre, vai assim, para além do dogma do ser feliz, tendencionalmente egoísta - "eu ser feliz". Ser livre para sentir alegria e tristeza, para aprender, para fazer, para crescer, para dar e para receber. Só assim, podemos ter saúde mental, liberdade e uma democracia informada e real. Caminhamos assim para merecer o título de sapiens (=sábio/a) da nossa espécie.

Só existe verdadeira Saúde Mental se existir Liberdade

Pela inversão da primeira afirmação, obtemos a segunda. Só se formos livres, poderemos ter saúde mental. As prisões de educação, de regime, de família, de casal, de trabalho, de liberdade, ... roubam-nos a nossa liberdade e a nossa saúde mental. Podemos não ter uma doença mental, mas também não temos saúde mental. Um dos exemplos é o esgotamento / exaustão profissional / burn-out. Não existe para a OMS como doença mental, mas como problema ocupacional, responsabilizando as empresas pela sua eliminação e não os serviços de saúde. Tantas vezes as pessoas queixam-se de esgotamento, mas o que na realidade se passa é algo que já extravasou os limites do trabalho, englobou a tristeza, a ausência de prazer e outras alterações fisiológicas e transformou-se numa perturbação depressiva. Também as relações tóxicas de todas as naturezas, causam inicialmente perturbações de reação aguda e se mantidas, transformam-se em crónicas, atingindo um dia os critérios para doença.

Saúde e doença andam de mãos dadas na conceptualização do nosso ser. Nem estamos livres, nem presos. Não somos uma doença, mas podemos ter uma doença. E em ambas as hipóteses, ter ou não ter doença, não significa que tenhamos saúde mental.

Termino com as afirmações habituais, hoje mais claras. Se não temos um sistema de saúde com robusta resposta na doença mental, que democracia é esta? Se mantemos um sistema viciado que promove a doença (pela ausência de resposta) e a pobreza (pelo pagamento para obter ajuda no privado), que democracia é esta? As equipas comunitárias e o internamento em hospital geral não são ideias minhas originais para a Madeira, são as que outros antes afirmaram e colocaram no Plano Regional de Saúde Mental e na Estratégia Regional de Saúde Mental.

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