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Artigo de Opinião

silviamariamata@gmail.com

17/12/2023 05:00

Olha, amiga, já tens tudo pronto prá Festa? – perguntam elas, de cima dos balcões do terreiro e da roda das paredes, às que passam na vereda a caminho da fonte, com as vasilhas e os aguadores de folha a balançar em cada mão.

- Cá nada, pequena! Tenho tudo de fundo ao ar – dizem elas, fazendo-se apressadas com a vida por fazer.

- Não acredito, tão esperta e escafiada que tu és, sempre com tudo a luzir na tua casinha – respingam as outras de cima a se meter.

- Prá salvação se eu tenho tudo pronto prá Festa, cá nada... Podes vir ver... Como é que se pode com os pequenos a entrar para dentro e para fora e mais o cachorro atrás deles a pular, a levar selapas de terra das brincadeiras da eira pela cozinha pra lá?

- Ah, amiga, eu sei o que é ter pequenos! É a gente a limpar e eles a sujar. Eu estava a caçoar contigo. Até mais outra, amiga. Avia-te, que eu também vou-me aviar! Adeus, adeus - a conversa está assim feita e também isto já é Festa.

- Adeus, adeus. É a vida...- e vai-se embora, mas volta atrás um passinho - Olha, olha aí.... Só mais esta...Festa é também os pequenos a quererem roupas novas e de marca, caras como lume, para se irem mostrar por aí abaixo para o campo Almirante Reis, como se fossem gente grande e gente rica. Quem pode com esta carestia de vida?

- Olha, o que eu digo aos meus é que o Deus–Menino não tinha com que se abafar, tão pobrezinho nas suas palhinhas, e não se afligiu em ter nada dessas vaidades do mundo. A aflição Dele é bem maior... Portanto eles que se contentem com o pouco que lhes cair no prato. Adeus, adeus, amiga...

São estas as conversas, feitas de poesia, entre as mulheres da minha infância.

E era, naquele tempo, a malta nova a pensar que aquelas antiquadas eram tão tolas com estes dizeres que até metia vergonha. E do outro lado, estavam eles, os nossos velhos, a segurar as suas labutas com força nos pulsos, a trabalhar no duro para os filhos, e a saber que eles, os jovens, coitadinhos, é que eram naturalmente tão tolos que não sabiam nada das agruras que é arrumar a vida no seu lugar.

- Tu vais me dar valor, mas não é ainda – conversa de velho que sabe e avisa.

- Sim, sim...- conversa de zombaria de gente jovem, cheia de amanhãs.

E por falar em juventude, o jovem Senhor Padre Jorge foi o pároco da nossa Missa do Parto no Liceu. E falou duma coisa em que eu nunca tinha pensado antes: a simbologia da mesa. Não é por acaso que temos uma mesa no altar para nos reunirmos à volta dela. E também nas nossas casas, digo eu, há sempre uma mesa. Até na escola, há sempre uma mesa para cada um. E a mesa existe, diz o Sr Padre, porque somos seres fracos, frágeis e pobres e precisamos sempre de alimento renovado a cada dia, posto em cima de cada mesa. Estamos sempre famintos e devemos nos sentir conscientes disso e felizes, como quando, por exemplo, um amigo nos procura para desabafar mágoas e nos sentamos à roda da mesa procurando o alimento para a cura, a dele e a nossa.

De verdade, em matéria de cura e de alimento, cada um de nós sabe do que precisa este Natal. E isto faz-me lembrar da minha professora Maria do Amparo, do anexo do Liceu, o Girassol, há que séculos. Ela mandou um dia um TPC que me deu voltas ao miolo, tantas voltas que eu até fui perguntar a minha mãe, que sempre tinha mais experiência do que eu. A questão era “De que se nutre o Amor?” – “De quoi se nutri l`Àmour?” Já se sabe que a juventude andou às voltas, às voltas. E a resposta era tão simples e tão transparente. Está mesmo de caras à nossa frente .... Basta olhar e ver.

Sílvia Mata escreve ao domingo, de 4 em 4 semanas

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