Recentemente descobri uma palavra que me ficou presa ao pensamento. Daquelas palavras raras, difíceis de explicar e impossíveis de traduzir com rigor para português. Chama-se Fernweh e vem do alemão. A tradução mais aproximada aponta para algo como “saudade de lugares distantes”, “desejo profundo de viajar” ou até “nostalgia por sítios onde nunca estivemos”. Ainda assim, nenhuma destas expressões, isoladamente, consegue captar toda a densidade emocional que a palavra transporta.
Fernweh não é apenas vontade de fazer malas ou marcar férias. É uma inquietação interior, uma espécie de chamamento silencioso do mundo. É sentir que há caminhos por percorrer, culturas por conhecer, horizontes por alargar. É a sensação de que o lugar onde estamos, por mais confortável que seja, não esgota aquilo que somos nem tudo o que ainda podemos viver.
A fechar mais um ano, somos quase obrigados a fazer balanços. E este ano teve os seus altos, como todos têm, mas terminou também com uma ausência muito grande, uma falta profunda, que ainda não estou preparado para partilhar publicamente. O tempo ensinar-me-á quando e como o fazer. Para já, fica o silêncio e a aprendizagem difícil de continuar a caminhar.
Talvez por isso, ou talvez não, a verdade é que me sinto assim: Ich habe Fernweh. Sinto saudades de lugares que ainda não conheço. Tenho saudades de Roma, da Índia, do Japão, da Austrália, do Brasil, e de tantos outros lugares espalhados pelo mundo, não necessariamente por esta ordem, nem por razões turísticas óbvias. É mais fundo do que isso. É o desejo de estar noutros contextos, de escutar outras línguas, de observar outras rotinas, de me perder para me reencontrar. Quantos de nós não sentimos isso?
Podemos perguntar-nos como é possível sentir saudades daquilo que nunca tivemos. A resposta talvez esteja menos nos lugares e mais no tempo. Há um velho ditado português que aconselha a nunca voltarmos a um lugar onde já fomos felizes. Não porque o lugar tenha mudado apenas, mas porque nós mudámos. O que tornava aquele sítio especial não era só a paisagem ou o cheiro, mas as pessoas com quem lá estávamos, o momento da vida que atravessávamos, o que sentíamos por dentro. Nada disso se repete. Tudo evolui. Tudo se transforma.
Viajar, no fundo, nunca é apenas deslocarmo-nos no espaço. É também uma viagem interior. É confrontarmo-nos com aquilo que somos e com aquilo que já não somos. Talvez seja isso que o Fernweh verdadeiramente revela: não tanto o desejo de partir, mas a consciência de que estamos em mudança.
Ao olhar para 2026, sinto esse Fernweh com particular intensidade. A pergunta que fica é simples e complexa ao mesmo tempo: irei concretizar esse desejo? Para onde poderei ir? Não sei ainda. Mas sei que, enquanto houver caminhos por fazer — por fora e por dentro —, o mundo continuará a chamar. E talvez isso seja sinal de que ainda estamos vivos, atentos e disponíveis para o que vier. Será está disponível para sentir Fernweh, essa saudade de lugares distante?