No último fim-de-semana, Taremi, proeminente jogador iraniano, levantou a voz contra os adeptos do Irão e criticou o regime vigente. Ele manifestou-se contra os adeptos que chamaram os jogadores de “bisharaf” (pessoa sem honra). Taremi explicou que os jogadores não são responsáveis pela dura realidade do país, destacando que são cidadãos comuns sem poder para alterar o panorama nacional.
Em 2022, Taremi já se havia manifestado contra a morte de Mahsa Amini, uma jovem iraniana que foi morta pela polícia da moralidade por não usar o hijab conforme as regras.
Apesar de Taremi afirmar que nem ele nem outras figuras públicas podem mudar a realidade por completo, a verdade é que as suas ações e declarações podem influenciar a vida de muitas pessoas e até provocar mudanças na sociedade.
Ao longo da história, vários atletas fizeram a diferença com as suas ações e posicionamentos. Muhammad Ali, por exemplo, opôs-se à Guerra do Vietname e, como consequência, perdeu o seu título mundial de boxe e foi preso por se recusar a ser recrutado para uma guerra que contrariava suas convicções e fé.
Outro exemplo é Rashford, que durante o COVID-19 liderou uma campanha para pressionar o governo britânico a prolongar o fornecimento de refeições gratuitas para crianças em situação de vulnerabilidade. Ele mobilizou o apoio público e reverteu uma decisão governamental.
LeBron James, um defensor do movimento “Black Lives Matter”, tem sido um ativo crítico da brutalidade policial e da injustiça racial nos Estados Unidos, utilizando a sua plataforma para abordar questões sociais e desafiar líderes políticos.
No futebol, destaca-se Sócrates, jogador brasileiro do Corinthians, que liderou o movimento Democracia Corinthiana, desafiando a ditadura militar no Brasil e promovendo a participação política.
Hakan Şükür, o maior jogador da história do futebol turco, tornou-se um crítico feroz do presidente Erdoğan. Após expressar as suas opiniões políticas, Şükür foi forçado ao exílio e viu os seus bens serem confiscados, sendo declarado “inimigo do Estado”. Atualmente, vive nos Estados Unidos, onde trabalha como taxista, tendo perdido tudo pelo seu país.
Em Portugal, Cândido de Oliveira, futebolista, treinador e jornalista, foi um dos poucos desportistas a se manifestar abertamente contra a ditadura salazarista. A sua resistência levou-o a passar um ano no campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, tornando-se um símbolo da luta pela liberdade e pela democracia.
Em 2005, Didier Drogba, após a qualificação da Costa do Marfim para o Mundial, fez um apelo emocionante aos líderes do seu país para que cessassem o fogo na guerra civil, uma demanda que foi atendida pouco tempo depois. Desde então, Drogba tem atuado como um embaixador da paz no seu país.
Nem todos os atletas, contudo, escolhem ou têm a disposição para se envolver em questões políticas. Michael Jordan, um dos maiores atletas de todos os tempos, é um exemplo disso. Durante as eleições para o Senado na Carolina do Norte, onde o republicano racista Jesse Helms concorria contra o democrata afro-americano Harvey Gantt, Jordan, quando questionado sobre por que não se manifestava, respondeu simplesmente: “Os republicanos também compram sapatilhas.”
Um atleta com grande visibilidade pode hesitar em tomar partido, tentando agradar a todos ou evitar controvérsias. Contudo, chega um momento em que é necessário assumir uma posição e defender uma causa. Caso contrário, corre-se o risco de ser lembrado apenas como um grande atleta, sem ter contribuído para a melhoria da sociedade. Que os atletas não sejam “bisharaf”, mas sim agentes de mudança e defensores de uma sociedade e de um mundo melhores!
Eduardo Freitas escreve à quarta-feira, de 4 em 4 semanas.