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Artigo de Opinião

CULTURAS GLOBAIS E CRIATIVIDADE

15/08/2022 08:00

Caso não tenha o caro leitor ainda reparado, parecemos viver nos tempos áureos do fixe. Tudo tem de ser fixe, tudo tem de cair bem, tudo tem de ser chique a valer. Olhe-se a forma como se "fala" com pessoas chegadas, amigos, conhecidos, etc. Como se comunica pelos dispositivos tecnológicos e afins. É a Era da pouca conversa, de poucas frases, vocabulário reduzido e repetitivo, os famosos Emojis. Às vezes mandam-me emojis de lume, uma catrefada de corações de várias cores (é a banalização dos corações) e outros símbolos muito suscetíveis a variadíssimas interpretações. Há de tudo. Em relação ao lume, considero adequado ao contexto e tradição Madeirenses. Fico sempre momentaneamente esperançado que me estão a convidar para uma espetada ou patuscada. Vejo sempre esse símbolo de lume como um possível braseiro. Há dias fiquei triste e desiludido porque informaram-me que não é. Enfim, é a vida. Em outra situação, numa página de uma rede "social", vi uma bonita foto e 37 comentários. Nenhum comentário continha uma palavra. Eram tudo mãos para o ar, o lume, corações, um músculo do braço e outros símbolos. É fixe, não é?

Acontece que, por vezes, parece que as pessoas já não sabem falar umas com as outras, se calhar não há tempo, é muito mais prático pegar o lume a tudo e ir nas modas. Se o fixe está na moda tá-se bem. Se o Top está na moda, Top, Brutal, yeah, altamente, boa. Alguém que escreva ou diga "bom dia", "como estás", "boa noite", "obrigado", "desculpa", parece ir ficando fora de contexto. Ser educado e talvez com valores ultrapassados do bom dia, obrigado, com licença, as reacções podem às vezes ser de espanto, como se ser bem-educado fosse uma enorme perda de tempo.

O que me parece é que o fixe não tem lá grande profundidade, não tem grande solidez, não ajuda a crescer. Um artista que exponha uma pintura e que tenha toda a gente a elogiar ou simplesmente a dizer "Está fixe" pode nunca vir a crescer, melhorar, aprender. Vai ficar pelo fixe.

Pelos tempos oitocentistas surgiu em Portugal um movimento conhecido pela "Questão Coimbrã". Intelectuais da Universidade de Coimbra criticavam os artistas e escritores Lisboetas por convencionarem-se entre si. Elogiavam-se sempre, faziam as mesmas coisas, copiavam-se e tudo ficava bem. Uma espécie de panelinha que coze em lume brando e não dá em nada. Não havia ninguém com a frontalidade de criticar e dizer que algo não ia bem, assim tudo ficava numa ficção mansa, conveniente em que tudo parecia estar bem. Às vezes assim é os dias de hoje. O que interessa é não chatear, não pensar muito, não criticar para não ferir suscetibilidades. A ficção moderna não é muito diferente desses tempos. Em muitas vertentes, e em específico na realidade da Ilha da Madeira o que está na moda é o fixe, fazer tudo igual, aproveitar o momento, ter solidariedade partidária (uma das maiores aberrações da democracia).

Às vezes há que aproveitar aquele amigo chato que diz mal, que tenta dizer umas coisas difíceis de digerir. Esse amigo pode ser a "Bomba de Gasolina" de um combustível caro, mas que vai fazer com que não se fique pelo fixe e nos preparemos para um admirável mundo novo. Ou então, abolir a solidariedade partidária e politiquices bacocas em prol de um bem maior, o futuro da Ilha da Madeira para que não seja um destino apenas fixe e igual a muitos outros e sim algo distinto, com alma, solidez e IDENTIDADE!

Por falar em além do fixe, alguns destaques sempre injustos por ficar sempre alguém de fora. O bom amigo João, a trabalhar em musicoterapia na Associação de Paralisia Cerebral da Madeira, a AD Camacha e o papel social que tem numa terra de dificuldades, os meus amigos Higino, Duarte Salgado, Francisco pela coragem de serem artistas e viverem da arte numa sociedade que ainda olha de lado para os artistas, o projecto Biqueira por preservar e enaltecer tesouros da cozinha Madeirense e todos os outros que se arriscam a ir além do FIXE!

Até…

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