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Artigo de Opinião

Directora Business Development

16/08/2021 08:00

Desde o longínquo período da colonização, durante o século XV, todo o progresso conquistado na Madeira foi conseguido com grande suor de mão de obra humana, que bravou acerramente montes e vales, desafiando o declive acentuado da ilha. A agricultura desenvolve-se nas encostas ingremes, com difíceis acessos e a um custo avassalador para quem trabalhava. Desenvolveram-se novas técnicas de cultivo, deu-se mote à penosa exploração da cana-de-açúcar, onde cada folha parecia cortar como lâmina a pele de quem trabalha - mas o açúcar era um bem bastante procurado na Europa e assim a sua produção tornou-se no motor da economia da ilha, dando lugar à construção do primeiro engenho na Madeira. Apesar da sua pequenez de ilha no meio do Atlântico, de um mundo ainda tão pouco conectado, a Madeira conseguiu dar o exemplo para outros países que vieram depois a desenvolver o cultivo da cana-de-açúcar, a uma grande escala, como é o caso do Brasil.

Todo o planeamento para construção das modestas vias de comunicação, por forma a ligar as povoações, seguia a regra ditada pela orografia e cada curva era regida pela natureza, levando largos anos a construir cada estrada, cada vereda, cada acesso e longas horas para percorrer curtas distâncias. Identificada a necessidade de trazer a água, das montanhas a norte da ilha onde abundava, até ao sul, por forma a irrigar os cultivos e para consumo doméstico, deu-se início à construção das levadas em meados do séc XVI. Mais uma obra construída a pulso, metro a metro desde as montanhas da Madeira, com difíceis precipícios para contornar, em canais de água que mantêm-se em atividade até aos dias de hoje, onde o barulho da água a correr nas levadas, está bem presente na memória de cada madeirense, esteja ele onde estiver. Atualmente existem cerca de 2.170 km de levadas construídas na Madeira, que continuam a regar os seus cultivos e que deram igualmente lugar a prazerosos roteiros de caminhadas pela natureza, tão apreciado pelos locais e por quem visita a ilha.

O vinho Madeira, que brilha nas melhores adegas do mundo, veio colocar a Madeira em evidência a partir do séc XVII. Veio eternizar a importância desta pequena ilha nos melhores roteiros vinícolas do mundo, onde as vinhas desenvolvem-se em harmonia com o duro trabalho humano que ainda hoje é usado neste cultivo - a apanha da uva, o transporte dos cestos nas costas dos corpos magros, mas rijos, o pisar das uvas, o cheiro do mosto que embeleza o fim de mais um Verão neste paraíso que é a Madeira.

A Madeira nunca se deixou intimidar pela sua pequenez, antes pelo contrário, tornou-se numa grande ilha. Valeu-lhe a ousadia dos seus dirigentes, que nas últimas quatro décadas apostaram na segurança das suas infraestruturas e abriram a Madeira para o mundo. Construíram estradas, abriram túneis, construíram portos e marinas, alargaram o aeroporto, encurtaram as distâncias, aproximaram as suas gentes às cidades, aos cuidados médicos, apostaram na educação e na preparação das gerações vindouras, abriram uma universidade, apostaram nos transportes públicos e no mundo digital, e com ele a ligação ao segundo com um mundo competitivo, que se adapta a qualquer mudança que a vida nos obriga (como é o caso desta pandemia que vivemos) cuidando dos seus e dos que a visitam.

A Madeira deixou de estar no fim do mundo e passou a estar, para sempre, no centro do mundo.

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