Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje. O ditado é velho, gasto até, mas continua a ser ignorado pelos que, por função e responsabilidade, deveriam tê-lo emoldurado nas paredes dos seus gabinetes.
A dificuldade em encontrar soluções não é desculpa para adiar decisões que condicionam serviços e instituições cruciais para a sociedade. Mas, na prática, é exatamente isso que está a acontecer na sucessão da liderança do SESARAM.
O conselho de administração terminou ontem o mandato. O normal seria que muito antes da data-limite já houvesse substitutos assegurados. Ou, no limite, que no dia seguinte houvesse uma nova equipa e um rumo anunciado. Mas não. O poder político pede agora que os atuais responsáveis continuem, mesmo depois de ter ficado por demais evidente que não contam com eles para o futuro. Um pedido de “desenrasque”, como se a gestão da saúde pública fosse remendável com fita adesiva e alguma dose de boa vontade.
Na saúde não há espaço para soluções de compromisso polvilhadas de hipocrisia. Muito menos quando a relação entre os quadros de topo já vive sob tensão declarada. Pedir que continuem porque não se foi capaz de encontrar soluções em tempo útil é, no mínimo, um exercício perigoso.
O que se sabe hoje sobre o futuro do SESARAM? Pouco. O que não se sabe? Quase tudo.Sabe-se que a solução inicialmente trabalhada, mesmo que agora o Governo jure que nunca existiu, caiu por terra. Sabe-se que o processo está atrasado. E sabe-se que cada dia de silêncio pesa, e muito, sobre o funcionamento de uma estrutura que já vinha fragilizada, abrindo fissuras para desentendimentos ainda maiores.
O problema, portanto, não é apenas a demora. É o efeito corrosivo dessa demora.A saúde pública não tolera vazios que dão espaço a inevitáveis silêncios ruidosos que ecoam pelos corredores, alimentam especulação, travam decisões e minam o quotidiano de centenas de profissionais e milhares de utentes.
Desde o conflito público com a Direção Clínica que ficou claro que a liderança do SESARAM tinha perdido força. Mas quem ameaçou sair e ficou, porque houve garantias de que o problema terminaria no final do mandato, também tem razões para reclamar a partir de hoje. Porque ainda nada mudou.
Resta saber como se sentem os atuais administradores, obrigados a prolongar uma gestão que estava, teoricamente, esgotada ontem. Como se sentem os diretores clínicos, chefias, coordenadores, técnicos superiores, todos os que dependem de orientações claras e estáveis.
A atual indecisão no SESARAM, seja por falta de nomes, por pressões internas ou por mero cálculo político, é um problema. Uma ferida à vista de todos, que ainda não tem medicamento prescrito.
Quantos adiamentos suporta um setor que não tem margem para falhar?