Obrigada e desculpe, estão em extinção?
Dizer “obrigada” não custa nada; pedir desculpa, muito menos. Surpreende-nos a simpatia. A simpatia com respeito pelo outro, deixaram de ser a regra para passar a ser a exceção.
Nas férias de verão, aconteceu-me algo que me fez pensar. Aluguei uma casa de férias para estar em família, numa zona de praia do continente. Qual não foi o meu espanto quando percebi que a minha família tinha sido elogiada, e até recomendada, no site de aluguer de casas de férias que utilizámos. Fomos descritos como “limpos e arrumados, em boas condições, organizou o lixo, mensagens úteis, respeitosos, sempre respondeu”. A dona da casa manifestou a sua gratidão ou a sua surpresa?
Fizemos apenas o que sempre fazemos por onde passamos. Mas foi a primeira vez que fomos elogiados por fazer aquilo que, para mim, é o nosso dever: tratar a casa dos outros como se fosse a nossa. Esse elogio fez-me perceber que a minha família, que eu julgava agir como a regra, afinal, age como a exceção.
O que mudou? Estaremos a respeitar menos o que é dos outros? A minha mãe dizia que as coisas dos outros devíamos tratar melhor do que as nossas.
Confesso que não gosto nada dos “vídeos virais” nas redes sociais em que os pais visitam a casa dos filhos adultos e, em vez de elogiarem e sentirem orgulho por ver a casa limpa e arrumada, sujam tudo, como esses filhos faziam em casa dos pais. O que esses pais não percebem é que o que acontecia na sua casa era da sua responsabilidade, não dos filhos. Os adultos é que mandam nas crianças. E esses pais voltam a errar ao sujar a casa dos filhos, porque, mesmo que os filhos já sejam adultos, eles continuam a ser pais e, como tal, serão sempre um exemplo a seguir. Pais de adultos, aparentemente saudáveis, a agirem como crianças “sem limites” na casa dos filhos?
Obviamente, tudo começa na infância, com a educação que recebemos. Lembro-me perfeitamente de quem me explicou que o lixo que fazemos é da nossa responsabilidade e, por isso, deve ser colocado no sítio certo, para ter o tratamento adequado.
O chão não é o lugar dele. Fazer reciclagem dá trabalho a nós e aos filhos. Obrigar a fazer é educar! Moro perto de escolas e fico chocada com a pegada deixada por crianças e jovens. Já cheguei a ver um saco cheio de garrafas de cerveja vazias na levada. Vidrão?
É verdade que muitos pais têm, hoje, menos tempo para estar com os filhos. E é verdade que educar exige tempo. Mas uma família em que todos colaboram é uma família que poupa tempo a quem, normalmente, faz tudo e, assim, ganha tempo para estar junta.
Vejo, nas redes, muita gente a agradecer ao sol e ao mar. Mas será que essas pessoas “gratas” agem com verdadeira gratidão para com o ambiente e as pessoas que as rodeiam?
Dizer sem fazer não adianta.
Como tratamos as nossas casas? Limpamos? Lavamos as roupas? Separamos o lixo? Varremos ou lavamos/varrer com água (algo que me irrita profundamente)?
Sempre que protegemos o ambiente, reduzimos a pegada ambiental. As alterações climáticas já são uma realidade, infelizmente mais para uns do que para outros. Mas uma coisa é certa: o modo como educamos os nossos filhos terá impacto.
Deixar tudo igual ao que encontramos será sempre uma ótima ideia. Evitar a pegada, a marca, é cuidar do futuro e de todos, mostrando gratidão ao planeta.
“O nível da poluição ambiental no planeta é igual à burrice dos homens.” — Edy Gahr
“No futuro, vamos olhar para trás e vamos rir-nos deles ou odiá-los.” — Greta Thunberg