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Artigo de Opinião

2/03/2024 13:43

A sociedade põe à disposição dos cidadãos um conjunto de modernidades como a inteligência artificial, a internet e as redes sociais e um pouco por todo o lado se aventam os perigos e afrontas que estas ferramentas podem constituir para o desenvolvimento humano e as relações sociais.

Desde os primórdios da humanidade o Homem teve sempre a habilidade de construir os artefactos necessários às suas necessidades e à sua própria ideia de desenvolvimento e progresso. A partir da designada Revolução Industrial o mundo viu surgir sempre um complexo, crescente e imparável, de novas tecnologias, impulsionado pela voracidade do capitalismo, onde as necessidades se vão paulatinamente criando, tornando-se imprescindíveis e sedimentadas.

Hoje já ninguém perspectiva a vida social, cultural, económica e política sem aquelas ferramentas facilitadoras, a despeito dos seus eventuais perigos. Em cada período de surgimento de novas tecnologias houve sempre a voz dos velhos do Restelo e, não obstante, o progresso fez-se e seguiu incontornavelmente. Que se desenvolvam ferramentas utilitárias e de facilitação da vida humana não me parece constituir uma preocupação. O que deveras me apoquenta são as ferramentas intelectuais e a capacidade crítica de quem as utiliza e como as utiliza. O que deve preocupar os sistemas de ensino, as famílias e o Estado não são as novas tecnologias, mas outrossim a capacidade que estas instituições devem ter para formar cidadãos capazes de lidar responsavelmente com elas e as suas potencialidades, positivas e negativas. Esse é que é o grande desiderato de futuro. E a chave estará inelutavelmente no conhecimento e na capacidade crítica. Só um cidadão letrado, com sentido crítico e consciência de si e do mundo será capaz de enfrentar, discernir e controlar as possibilidades ilimitadas que a tecnologia oferece e adequá-las ao livre desenvolvimento e enriquecimento da personalidade, da felicidade humana e do progresso social, cultural e económico. O desnível ou o fosso entre a infinidade da capacidade tecnológica e a cada vez menos preparada capacidade humana para a ela se interligar deverá ser o móbil global das preocupações sociais.

O grande trunfo da tecnologia é amoldar-se facilmente a qualquer utilizador, pelo que é a este que terá de se pedir o esforço de a avaliar criticamente. O que se assiste actualmente é à utilização indiscriminada e amorfa das novas tecnologias por cidadãos impreparados culturalmente e sem o mínimo discernimento e avaliação crítica do que se lhes apresenta. Há uma apatia generalizada, sobretudo dos mais jovens, sobre a consciência de si próprio e da sua condição social e económica, sobre o fenómeno político e a cultura da cidadania, que se traduz numa ausência opinativa e na incapacidade de destrinçar o trigo do joio nas falácias da tecnologia, da vida social, económica e política. Apatia que conduz a uma utilização acrítica e como um fim em si mesmo das novas ferramentas e à estupidificação que elas potenciam. Arrisco mesmo dizer que um dos problemas sociais mais profundos é a falta de cultura de cidadania e a ausência de espírito crítico e da capacidade de pensar e se interrogar. O homem impensante ou acrítico é uma presa indefesa nas mãos de todos os aproveitamentos pessoais, comerciais, políticos ou de demagogia barata.

A sedimentação da escolarização, de uma cultura de assunção de direitos e deveres sociais, de livre pensamento e espírito crítico, são desígnios colectivos que permitem encarar o futuro da sociedade com esperança, embora tal não agrade a agendas políticas assentes no logro e na mistificação e aos desideratos lucrativos, ou sub-repticiamente ideológicos, de um capitalismo selvagem.

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