O índice de estabilidade financeira de Cabo Verde subiu pelo terceiro trimestre consecutivo, para novos máximos, suportado em grande parte pelo reforço da robustez dos bancos do arquipélago, anunciou hoje o banco central.
O boletim do Banco de Cabo Verde (BCV) referente ao segundo trimestre desde ano aponta para um “aumento da estabilidade financeira, impulsionada principalmente pelo reforço da robustez do sistema bancário”, assim como pela evolução favorável de outros índices que medem o desenvolvimento financeiro, vulnerabilidade e clima económico externo.
Ainda assim, o Gabinete de Supervisão Macroprudencial e de Resolução do BCV faz alguns alertas: o aumento do ‘stock’ de créditos vencidos e em risco sugere uma “deterioração da qualidade da carteira”, com o rácio de ‘non performing loans’ (NPL) a atingir, em junho de 2024 o nível de 10,5%.
“Pela deterioração da qualidade da carteira do setor responde um conjunto restrito de clientes, não sendo a evolução transversal ao sistema bancário”, nota o banco central.
Repetindo alertas anteriores, o BCV indica que se mantém uma “elevada concentração” de risco de crédito e de liquidez, bem assim como uma “significativa exposição ao risco soberano”.
Seja como for, a solvabilidade bancária “continua robusta” e mantém-se “reduzido o risco de insolvência”.
O rácio de solvabilidade situou-se em 22,5% em junho de 2024, crescendo um ponto percentual em termos homólogos, “dado o ritmo de incremento dos fundos próprios, superior ao dos ativos de risco, mantendo-se o indicador bastante acima do mínimo de 11,25%”.
Noutra nota, o banco central referiu que a “menor atratividade dos depósitos a prazo nacionais continua a representar um risco à estabilidade financeira, num contexto de livre mobilidade de capitais”, em que depósitos no exterior podem atrair as poupanças de emigrantes.
A diáspora representa o triplo dos 500 mil habitantes residentes no arquipélago e é responsável por muitas transferências para os bancos de Cabo Verde.
Em resumo, “a posição de liquidez do setor bancário mantém-se elevada e bastante confortável em junho de 2024”, com um ‘stock’ de ativos líquidos de 173 mil milhões de escudos (1,5 mil milhões de euros), um acréscimo de 3,6% em termos homólogos, refere-se no boletim.
O rácio de transformação dos depósitos em crédito permanece inferior a 60% e um “crescimento significativo dos resultados” serviu para impulsionar os “indicadores de rendibilidade bancária para níveis elevados”.
Nos seguros, houve uma “consolidação do setor, mantendo-se elevado o nível de liquidez e de solvência” das seguradoras e o mercado de capitais, “não obstante a sua reduzida representatividade, contribuiu para o financiamento aos setores do comércio, prestação de serviços, eletricidade e água”.
Ao nível do enquadramento macroeconómico, o boletim indica uma evolução favorável das contas externas e um “expressivo aumento dos ativos externos dos bancos comerciais”, a par de uma “redução das reservas cambiais”.
As contas do país têm beneficiado do “aumento mais expressivo do consumo (privado e público) e da contínua recuperação das exportações de serviços, a par da redução das importações”, fatores que têm suportado “o crescimento económico do lado da procura”.
Há, no entanto, uma “redução do investimento real para o volume mais baixo desde o início da série, em 2007”.
O BCV aponta ainda para o aumento do défice orçamental e “o elevado nível de endividamento público, não obstante a tendência de redução relativamente ao Produto Interno Bruto (PIB)”.
A proposta de Orçamento de Estado para 2025 prevê uma redução da dívida em percentagem do PIB de 109,2% para 105,2%.
Olavo Correia, vice-primeiro-ministro e titular das pastas da Economia e Finanças, tem indicado que o rácio rondava 140% do PIB “logo após a pandemia”, acrescentando que “Cabo Verde tem sido o país que melhor desempenho tem tido nos últimos anos, a nível mundial, do ponto de vista da redução da dívida pública em percentagem do PIB”.