O Natal não deu descanso à irascibilidade da administração Trump - o que não deixa de ser curioso numa linha política que gosta de usar (e abusar) a religião cristã na lapela... Na véspera de Natal, a Europa foi “brindada” com a notícia de que o Departamento de Estado dos EUA impôs sanções a cinco cidadãos europeus. Entre eles, o ex-comissário europeu para o Mercado Interno, Thierry Breton, “pai” do Regulamento dos Serviços Digitais da UE (DSA), que visou o conteúdo ilícito e a desinformação online. Em consequência destas sanções, Breton e outros quatro europeus envolvidos no combate ao discurso de ódio e à desinformação online ficam impedidos de entrar ou permanecer nos Estados Unidos (qualquer dia, o Polígrafo é cancelado).
A administração Trump alega que estas pessoas pressionaram as plataformas digitais americanas a “censurar” ou suprimir “pontos de vista americanos”, defendendo ainda que as suas abordagens regulatórias equivalem a uma forma de “censura extraterritorial”. Engana-se quem veja aqui uma inocente e genuína defesa da liberdade de expressão por parte da administração americana. O que se defende é a libertinagem das redes sociais (recorde-se como o X já roçou o xxx nos deep fakes), enquanto servir a extrema-direita e o caos.
Este ataque claro à soberania regulatória europeia foi prontamente denunciado por alguns líderes europeus, entre os quais Emmanuel Macron, mas isso não basta. Não é apenas nos recreios das escolas que os bullies devem ser enfrentados, sendo que a democracia e o estado de direito estão sob ataque.
Perante esta alteração profunda na relação entre a UE e os EUA, importa que também o automatismo transatlântico que muitos professam em Portugal seja entendido com maior prudência e sentido de auto-preservação. A comunidade política que nos é mais próxima é a europeia - seja pela governação partilhada, pela identidade e valores comuns ou pela participação cívica conjunta no processo de integração europeia. Reforçar o elo de Portugal com a UE é, por isso, essencial.
Este tema tem sido aflorado em alguns debates entre os candidatos às eleições presidenciais de 2026. Contudo, entre os candidatos com reais hipóteses de chegar à segunda volta, apenas António José Seguro tem demonstrado uma convicção reconfortante quanto ao lado que escolhe: Portugal na Europa.
2026 arranca com um ato eleitoral que muitos classificam, erroneamente, como “secundário”. Nada mais distante da verdade, tendo em conta não só as enormes tensões internacionais, mas também a crescente intolerância na própria sociedade portuguesa.
Coincidindo com os 100 anos do fim da I República (Golpe de Estado de 28 de maio de 1926), é essencial que os cidadãos reforcem o seu vínculo com a Presidência da República. Tal não se alcança com candidatos manchurianos ou híbridos, que ou desconhecem as funções do Presidente da República ou pretendem, conscientemente, repetir erros do passado, golpeando a República e os equilíbrios entre os poderes - fruto de décadas de esforço coletivo da sociedade portuguesa. Tampouco se atinge esse objetivo com candidatos divisionistas, que colocam portugueses contra portugueses, contra os valores europeus que garantiram paz e crescimento, ou mesmo aqueles que maiores dificuldades têm em demonstrar a sua equidistância e transparência. Mais do que nunca, o papel do próximo Presidente da República será determinante para garantir o equilíbrio entre as forças institucionais e políticas. Pelo que importa optar Seguro.
Rubina Berardo escreve ao sábado, de 4 em 4 semanas.