A comunidade madeirense radicada em Santos, estado de São Paulo, despediu-se na semana passada de Isabel da Paixão Andrade, natural de Campanário que, juntamente com mais quatro conterrâneas, ficaram conhecidas pela grande dedicação em prol de manter viva a tradição do Bordado Madeira na região.
Falecida no passado dia 12 de fevereiro, aos 93 anos de idade, a ribeira-bravense, fazia parte de um grupo de cinco bordadeiras madeirenses que emigraram para a Terra de Vera Cruz ainda muito jovens.
Em tempos idos, os bordados elaborados pela comunidade madeirense adornavam os enxovais das famílias mais ricas de Santos, constituindo uma importante fonte de receitas para as centenas de bordadeiras que moravam no Morro São Bento.
A tradição manteve-se nas últimas décadas graças ao empenho de Dona Isabel, Beatriz, Maria Teresa, Maria Alexandre e Maria Paixão e, como reconhecimento, em 2008 este grupo de cinco mulheres viu as suas histórias de vida serem registadas em livro (Bordadeiras do Morro São Bento - A vida tecida entre o linho e as linhas, de Gisela Kodja).
A industrialização, que também mudou para sempre o setor dos têxteis, acabou por introduzir novos hábitos de consumo, contribuindo decisivamente para o declínio do bordado. Mas também houve desinteresse por parte das novas gerações,
"Essa atividade que, com tanta intensidade, preencheu a existência dessas mulheres, não despertou o interesse de suas filhas e netas", salientou Gisela Kodja, em aquando do lançamento do livro.
"As gerações seguintes declaram admiração e respeito pelo bordado, mas não fazem dessa arte o seu ofício. No Morro São Bento, o bordado da Ilha da Madeira é um tesouro sem herdeiros", observou a autora.
O reconhecimento do trabalho desenvolvido pelo grupo foi aprofundado em 2012, com o documentário intitulado ‘A Linha e a Vida’, que homenageou as bordadeiras madeirenses do Morro São Bento registando o trabalho de cinco mulheres (restam agora duas) que se radicaram nesta zona da cidade de Santos e que mantinham viva uma tradição que também faz parte identidade cultural de Santos.
Nascida em 28 de outubro de 1928, na freguesia do Campanário, concelho da Ribeira Brava, Isabel da Paixão Andrade partiu com a família, ainda jovem, em direção ao Brasil, desembarcando em Santos, onde foi das primeiras a povoar o Morro São Bento, zona escolhida por centenas de emigrantes madeirenses.
Raul Caires