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Artigo de Opinião

PALAVRAS APENAS

30/04/2022 08:00

Há cem, anos, em abril, morria, no Monte, um Imperador sem império, um rei sem reino e sem coroa, um homem bom. Veio exilado de um mundo que se tinha quebrado com as guerras dos homens. Chamava-se Carlos e tinha procurado a paz.

Encontrou-a na Madeira, assim que os seus olhos se prenderam às torres da Igreja do Monte. Estava lá a memória ("Como me lembra as igrejas do meu país"). Estava lá a possibilidade de restaurar o peito, depois de tanta luta, de tanta tentativa de diálogo, de tanta critica, de tanto, tanto que mata. Estava lá o principio do resto da sua vida. Mas estava lá também este hoje em que o mundo se recorda deste imperador da paz.

A 19 de novembro de 1921, Carlos, o último imperador dos Habsburg, chegava, com Zita, a sua mulher, ao Funchal a bordo do Cardiff. Apesar da Madeira se apresentar como lugar do exílio, a beleza da natureza e a simpatia das suas gentes, ajudaram a acalmar a dor de quem tem de sair de casa, de quem continua com o coração preso a outros lugares, a outras pessoas. Era a montanha e o mar, mas era sobretudo o desenho dos braços abertos para acolher quem vinha de fora e, sendo de um mundo diferente, mostrava bondade.

Carlos era o "santo rei" que o povo aprendeu a amar, porque trazia nos gestos a delicadeza dos grandes que sabem dobrar os joelhos, a beleza da generosidade. Sabia dar do pouco que tinha e sabia receber. Só os humildes sabem receber. E agradecer. Só os humildes. E os grandes.

Viveu cá pouco tempo. Uma pneumonia levou-o depressa para o colo d’Aquele que ele amava acima de todas as coisas, no dia 1 de abril de 1922. Mas permaneceu. A igreja do Monte guardou o seu corpo. O Papa João Paulo II declarou-o Beato, em 2004 e nós, neste lugar que o Atlântico embala, temos a felicidade de o ter connosco, porque assim tinha de ser.

Há histórias que se contam sozinhas. Há histórias que voltam a fazer sentido fora do tempo, porque guardam, por dentro, a luz que não se extingue. Mesmo que.

A história do Beato Carlos é assim. E traz o mundo ao Monte. E o mundo ajoelha-se aos pés do seu túmulo e pede-lhe o que não tem: a paz.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
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