Na V Conferência do Caminho Real da Madeira, o presidente da Câmara Municipal de Santana, Dinarte Fernandes, afirmou que a Região vive “um ponto de viragem” no que diz respeito à relação dos madeirenses com o seu território. Segundo o autarca, “nunca senti o madeirense tão cioso do seu espaço como agora, a querer ter espaço só para si e para poder desfrutar do seu património”. Esta mudança, afirmou, coloca “um desafio enorme” tanto às autarquias como ao Governo Regional.
Dinarte Fernandes explicou que se torna cada vez mais difícil para os responsáveis políticos justificarem investimentos públicos ou parcerias público-privadas, sobretudo em áreas sensíveis ou de grande impacto territorial. Para ilustrar essa realidade, deu o exemplo do futuro campo de golfe projetado para o concelho de Santana. Sublinhou que não é contra o projeto — reconhecendo, aliás, que poderia trazer benefícios — mas admitiu que “a opinião pública não está preparada para aceitar este tipo de investimentos” neste momento.
O autarca destacou que a associação promotora dos Caminhos Reais assume um papel importante ao mostrar à população a relevância cultural, ambiental e identitária destes percursos. “O madeirense precisa deste espaço físico e pede cada vez mais que olhem para ele, e não apenas para o turista. O Caminho Real faz precisamente isso”, afirmou. E acrescentou, com ironia, que é visto “como bestial” quando recupera um troço de Caminho Real, mas que esses trabalhos representam um esforço financeiro significativo.
“Tratar um Caminho Real é muito caro”, observou. “Se eu dissesse a algumas pessoas em Santana que investimos mais 40 mil euros num troço, havia quem dissesse que eu estou louco. Mas é bastante importante que os mantenhamos. O valor histórico é inegável.”
As declarações foram feitas no âmbito do primeiro painel da conferência, dedicado ao tema “Território e Pressão”, que aborda o equilíbrio entre segurança, sustentabilidade, procura turística e preservação da paisagem humanizada. O painel conta ainda com Élvio Camacho, investigador da Universidade da Madeira especializado em sustentabilidade turística e capacidade de carga, e com Renato Goulart, guia de montanha nos Açores, com mais de trinta anos de experiência no Pico e autor do documentário 2351.