Na cerimónia alusiva ao 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das comunidades portuguesas, no Palácio de são Lourenço, na qual iria ainda atribuir insígnias honoríficas a cinco entidades/instituições da Região (o maior número de condecorações desde que é representante da República), Ireneu Barreto refletiu sobre o contexto de estabilidade política que se vive na Região, após as últimas eleições regionais.
Mas, alertou, “a estabilidade não é, por si só, condição ou garantia de sucesso governativo”, apesar de permitir, “certamente, dois benefícios democráticos: a quem governa, maior tranquilidade para executar o seu programa e, a quem elege, uma maior exigência com os nossos governantes, a quem não se compreenderão desculpas ou pretextos para a ausência de respostas”.
De qualquer modo, há aspetos a melhorar na vida da Região. Nesse sentido, o Representante da República para a Madeira confessou que o mais preocupante, na sua opinião, “é a persistência de algumas desigualdades sociais”, como no acesso à saúde, a habitação condigna, educação inclusiva e oferta cultural ampla.
“O desenvolvimento da nossa terra não chegou para que alguns dos nossos concidadãos atinjam as condições de vida condignas que todos merecem, e que o crescimento económico deveria permitir”, afirmou, recusando-se a aceitar “o retrato negativo, baseado em critérios muito discutíveis, que tentam traçar para a nossa Região”.
O responsável prefere “reconhecer os esforços do Governo Regional, das autarquias locais e das IPSS para a correção dessas carências – ao nível dos rendimentos de trabalho, do direito à habitação, do acesso aos bens essenciais – desejando que sejam bem-sucedidos”.
Mas, é preciso melhorar, “e muito, a constrangedora estatística que coloca esta Região Autónoma, ano após ano, no topo das estatísticas do crime de violência doméstica, de que resultam danos físicos e psicológicos em tantas mulheres, quantas vezes fatais ou indeléveis. E, se a responsabilidade por comportamentos individuais é sobretudo dos cidadãos, penso que também as entidades públicas poderão fazer um maior esforço para prevenir e reprimir este drama, intensificando o apoio às vítimas deste flagelo”, sensibilizou.
Ireneu Barreto apontou outro ponto essencial: “a necessidade de valorização da participação das mulheres na política. Já o disse e volto a repetir: a sistemática sub-representação das mulheres na política é mais que um problema de mera diversidade ou moda. É uma verdadeira questão de qualidade e profundidade da Democracia.”
A propósito, lembrou que atualmente, nas universidades, nos tribunais, nos hospitais e nas empresas, as mulheres, ou estão em maioria, ou se equiparam aos homens, em número e na partilha de responsabilidades, mas, “na política continua a ser um espaço em larga medida masculino. É uma situação que deve evoluir rapidamente, sobretudo num momento em que se questiona tantas vezes a qualidade e as motivações de muitos dos nossos políticos”.
Nota também para o contexto internacional, nomeadamente sobre os conflitos armados que assolam o mundo contemporâneo. Ucrânia, Gaza, Síria, Iémen, Sudão, Caxemira, Myanmar, entre outros; locais onde, com maior ou menor intensidade, os povos passam pelo flagelo da guerra. “Quem imaginaria que, em pleno século XXI, teríamos chegado a um ponto tal no nosso Mundo que o Santo Padre, recém-eleito, numa das suas primeiras orações públicas, sentiria necessidade de voltar a apelar ao fim de uma ‘III Guerra Mundial aos pedaços’?”
A salientar ainda a referência aos condecorados pela Presidência da República, distinguiram nas áreas da ação social, do ambiente e da educação: Maria Martins Góis Ferreira, Raimundo Quintal, Rocha da Silva, o Externato da Apresentação de Maria e a Escola Secundária de Francisco Franco.
“Julgo que os méritos das personalidades e das instituições hoje distinguidas são públicos e notórios”, afirmou.
O Representante encerrou a sua intervenção evocando a atualidade dos versos de Camões — “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” — e apelando à responsabilidade de todos, especialmente dos que exercem funções públicas, para transformar desafios em oportunidades e construir um país mais justo, desenvolvido e coeso.
“Sentir a Madeira, Cumprir Portugal, Construir a Europa. Viva a Região Autónoma da Madeira. Viva Portugal”, terminou.