No âmbito do Dia Mundial do Coração, o Espaço Ideia, da Assembleia Legislativa da Madeira, acolhe a ação de sensibilização ‘Cuidar do coração é cuidar da vida’, com o cardiologista Bruno Silva, do Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira (SESARAM), como orador convidado.
O médico traçou um retrato da realidade cardiovascular da Região, reconhecendo que a doença cardíaca continua a ser “um problema de saúde pública que atravessa gerações” e exige “prevenção contínua e hábitos de vida saudáveis”.
“Temos, em média, 150 a 200 casos de enfarte agudo do miocárdio com supra-DST por ano, aos quais se juntam cerca de 500 casos sem supra-DST”, disse Bruno Silva. “Estamos a falar de 650 a 700 episódios anuais, que são os tipos de enfarte mais graves e que requerem intervenção imediata”, reforçou.
Um dado a destacar também das suas declarações prende-se com a transplantação cardíaca. Segundo Bruno Silva, o número de doentes da Madeira que chega a ser inscrito nas listas de espera nacionais para transplante é reduzido. “Não ultrapassa os dez casos por ano, é um número bastante baixo”, esclareceu.
Antes, clarificou que o procedimento não é realizado na região, mas há doentes que são referenciados para o continente. “Falamos de situações em que já esgotámos todas as outras opções terapêuticas. Felizmente, temos hoje dispositivos como os cardiorressincronizadores e desfibrilhadores implantáveis, além de terapêuticas farmacológicas que ajudam a melhorar a função cardíaca. Ainda assim, há casos em que a transplantação é a única solução.”
Por outro lado, e em traços gerais, o médico destacou que a doença cardíaca não afeta apenas pessoas mais velhas. “Ainda existe a ideia de que o enfarte é um problema dos idosos, mas não é assim. Temos casos de doentes em paragem cardiorrespiratória a partir dos 30 ou 40 anos. É uma realidade que temos de enfrentar”, sublinhou.
O cardiologista recordou que o tratamento rápido é determinante. “A Via Verde Coronária, disponível 24 horas por dia, sete dias por semana, foi um grande avanço na Madeira. Garantimos que os doentes críticos chegam depressa ao laboratório de hemodinâmica e são tratados rapidamente. Isto, aliado ao uso de desfibrilhadores automáticos externos em locais públicos e à formação em suporte básico de vida, salvou muitas vidas que, há duas décadas, provavelmente se perderiam.”
Para o cardiologista, a prevenção continua a ser a arma mais eficaz. “Se conseguíssemos reduzir o tabagismo, o consumo crónico de álcool e promover a prática regular e moderada de exercício físico, já estaríamos a evitar grande parte dos problemas cardíacos. O coração precisa de cuidados diários e escolhas saudáveis ao longo da vida”, afirmou Bruno Silva, apelando a um esforço coletivo de cidadãos, famílias e profissionais de saúde para conter a incidência destas doenças na Madeira.
De salientar que, na sessão de sensibilização, moderada pelo jornalista Élvio Passos, a presidente do Parlamento madeirense sublinhou a importância de a Assembleia se associar a este tipo de iniciativas, em prol da literacia da saúde. Aliás, Rubina Leal divulgou que o órgão que preside pretende dinamizar outras ações relacionadas com a área.
No seu entender, é importante promover hábitos de saúde “em casa”, agradecendo, por isso, a adesão dos funcionários do parlamento à ação.