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Incêndios: Fajã das Galinhas continua inacessível e alguns moradores até não querem regressar

Data de publicação
20 Agosto 2024
18:41

O sítio da Fajã das Galinhas, no concelho de Câmara de Lobos, um dos mais afetados pelo incêndio que lavra na Madeira desde quarta-feira, vai permanecer inacessível pelo menos mais duas semanas, indicou hoje o presidente da autarquia.

“Neste momento, temos fora da Fajã das Galinhas 120 pessoas, 36 agregados familiares, das quais 42 pessoas [16 famílias] estão ao cuidado do Centro Comunitário da Câmara Municipal de Câmara de Lobos, e as restantes estão em casas de familiares”, disse Leonel Silva em declarações à agência Lusa.

O autarca falava nas instalações do centro comunitário, no Estreito de Câmara de Lobos, freguesia a que pertence a Fajã das Galinhas, onde decorreu uma “festa surpresa” para assinalar o 4.º aniversário do Henrique, uma das três crianças que está alojada no recinto.

“Olha, mamã, um robô!”, disse muito entusiasmado, quando abriu um dos presentes, e mais ainda ficou quando percebeu que era um brinquedo telecomandado.

A família do Henrique, tal como as restantes, foram retiradas da Fajã das Galinhas no sábado, quando o fogo cercou o sítio, localizado nas zonas altas do concelho, e, embora não haja registo de qualquer casa destruída, a única estrada de acesso encontra-se agora repleta de detritos, rochas e árvores que caíram da escapa e não tem condições para circulação em segurança.

“Eu já não voltava. Se eu tivesse para onde ir, eu já não voltava. Só voltava para ir buscar as coisas”, disse à agência Lusa Filomena Nunes, que tem 75 anos e foi alojada no centro comunitário juntamente com o marido.

Apesar de gostar muito do sítio, onde vive desde que nasceu e onde criou três filhos, sobretudo porque ali “há muito silêncio”, Filomena Nunes garante que não hesitaria em abandonar o local se lhe fosse disponibilizada uma casa noutra localidade.

Este é também o sentimento de Irene dos Santos e do marido, José Paulo Rodrigues.

“Se arranjassem casa, eu mudava. Mas, se não tiver casa, para onde é que a pessoa vai?”, disse Irene dos Santos, que vive na Fajã das Galinhas “desde pequenina”.

Ao lado, o marido partilha a opinião e até diz que não se importava de abandonar a fazenda.

José Paulo Rodrigues, que vive na Fajã das Galinhas desde o casamento, há 25 anos, lamenta não saber ainda quando poderão voltar ao sítio, mas está satisfeito com o serviço no centro comunitário.

“O que a gente come em casa também se come aqui. Tem uma matina, tem o almoço, tem o jantar e tem a ceia. É como a gente come em casa”, explicou.

Da parte da Câmara Municipal, o presidente Leonel Silva reconhece que o realojamento das famílias no centro comunitário foi organizado em “situação de emergência” e programado para “curta permanência”, mas as circunstâncias alteraram-se devido à instabilidade da escapa ao longo da estrada de acesso ao sítio.

“É um processo que temos de gerir por etapas [...] e o cenário mudou”, disse, realçando que, neste momento, não consegue “assegurar uma data previsível para se conseguir o regresso das pessoas em segurança às suas residências”.

“Uma a duas semanas, no mínimo”, aponta.

A autarquia procura agora alternativas, em articulação com a Segurança Social e o Instituto de Habitação, para distribuir as famílias por outras instalações e garantir assim maior privacidade e conforto.

“Neste momento, a estrada está interditada, impossível circular com viatura, porque tem muita matéria rochosa, árvores, troncos no pavimento”, relatou.

Leonel Silva disse que a prioridade hoje é repor a eletricidade no sítio e assegurar a alimentação e o cuidado dos animais de estimação e de criação que ficaram na Fajã das Galinhas, tendo sido mobilizada uma equipa da autarquia, com apoio de alguns moradores, para levar a cabo essa operação.

O autarca referiu, por outro lado, que um conjunto de famílias não regressaria ao local se lhes fosse proporcionada uma solução habitacional e lembrou que a Câmara Municipal já tem um plano para a construção de 30 moradias orçado em 7,5 milhões de euros.

“O meu desejo é, até ao final deste ano, ter as condições, recursos financeiros e compromissos contratuais para poder iniciar as escavações, para no espaço de ano e meio, dois anos, ter essas edificações concluídas”, afirmou.

O incêndio rural na Madeira deflagrou na quarta-feira nas serras da Ribeira Brava, propagando-se no dia seguinte ao concelho de Câmara de Lobos, e, já no fim de semana, ao município da Ponta do Sol.

Nestes sete dias, as autoridades deram indicação a perto de 200 pessoas para saírem das suas habitações por precaução e disponibilizaram equipamentos públicos de acolhimento, mas muitos moradores já regressaram, à exceção da Fajã das Galinhas, em Câmara de Lobos, e da Furna, na Ribeira Brava.

O combate às chamas tem sido dificultado pelo vento, agora mais reduzido, e pelas temperaturas elevadas, mas não há registo de destruição de casas e infraestruturas essenciais. Uma bombeira recebeu assistência hospitalar por exaustão, não havendo mais feridos.

Projeções do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais, citadas pelo Governo Regional, apontam para sete mil hectares ardidos.

A Polícia Judiciária está a investigar as causas, mas o presidente do executivo madeirense, Miguel Albuquerque, diz tratar-se de fogo.

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