O Clube de Ecologia Barbusano, da Escola Secundária de Francisco Franco, iniciou as atividades deste ano letivo com uma saída de campo no dia 25 de outubro. O ponto de partida foi na Encumeada, tendo o percurso sido feito ao longo da Levada do Norte até ao Sítio das Ginjas, São Vicente. Esta levada, com origem nas serras do Seixal, recebe águas do planalto do Paul da Serra, numa extensão superior a 20 Km. Estende-se depois pela costa sul, percorrendo mais de 35 Km, até à Ribeira dos Socorridos. Na Serra de água, abastece a central hidroelétrica, assegurando depois o regadio dos terrenos agrícolas da Ribeira Brava, Campanário, Quinta Grande e Câmara de Lobos.
“Em termos de vegetação, o início do percurso é marcado pela presença de plantas exóticas - agapantos, hortências, azálias, diversas coníferas, mas também de indígenas - faias das ilhas, loureiros, vinháticos, paus brancos, urzes. Lamentavelmente, os incêndios de agosto de 2024 afetaram de modo significativo esta área, tendo ardido muito urzal que, pelo facto de não conseguir recuperar, está a ser substituído por plantas invasoras”, refere nota da escola.
Mais nos conta que o “atravessamento do primeiro túnel transporta-nos para um cenário deslumbrante: entramos numa densa floresta húmida, a Laurissilva, com os seus estratos arbóreo, arbustivo e herbáceo ricos em biodiversidade”. “É importante relembrar que a Laurissilva é Património Mundial Natural, galardão atribuído pela UNESCO, em dezembro de 1999, o que constitui um motivo de orgulho para qualquer madeirense informado, representando também uma responsabilidade acrescida na sua conservação”, realça.
“Ao longo do percurso por entre vales e lombos deparamo-nos com uma extraordinária abundância de água que se manifesta por fascinantes quedas de água e por taludes húmidos revestidos de musgos, hepáticas e fetos. A densidade e diversidade da vegetação é algo também surpreendente: ao nível das herbáceas são os fetos, gerânios, leitugas, erva-redonda, ranúnculos, erva-coelho; Ao nível arbustivo são os piornos, urzes, uveiras, alindres, cabreiras, as menos frequentes roseira-brava, sabugueiro, Isoplexis sceptrum, Musschia wollastonii; No estrato arbóreo, para além dos comuns loureiros, folhados ou folhadeiros, tis, seixeiros, é impressionante como também podemos observar árvores mais raras, como o sanguinho, o aderno, o pau-branco, o perado, o que revela o bom estado de conservação da Laurissilva.
Ao todo, atravessamos um conjunto de quatro túneis, muito interessantes, pelo estado natural em que se encontram. É de destacar a toponímia dos locais, como o Folhadal, que tem essa denominação devido à abundância de folhados.
Chegados à casa dos levadeiros, descemos pelo caminho de terra batida até ao Sítio das Ginjas. É de destacar que a zona envolvente deste caminho apresenta um bom estado de conservação, observando-se loureiros, faias das ilhas, folhados, uveiras, urzes, leitugas, erva-redonda, entre outras, existindo, inclusivamente, a montante da casa dos levadeiros, um núcleo de adernos. Devido à grande biodiversidade vegetal e faunística (moluscos e aves) aqui existente, assim como a importância que esta zona tem para a recarga de aquíferos, o equilíbrio da mesma não deve ser destruído nem perturbado.”
“A Laurissilva não pode ser apenas motivo de orgulho e exibição, forçosamente tem de ser também sinónimo de conservação”, alerta o Clube Barbusano.