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Artigo de Opinião

Professor

4/06/2023 04:39

Perante os problemas, perante as dificuldades, em vez de arranjar soluções, de apontar caminhos, toca a sacudir a água do capote, culpando quem esteve antes no poder. É comum ouvir-se dizer que o problema é estrutural e que vem de trás. Simples. E, apesar de tudo, dá muitos frutos políticos e eleitorais.

O atraso do País tem sempre justificação. As narrativas dos socialistas, dos governantes e da tropa de comentadores aficionados, é sempre a mesma. Vale para justificar o afastamento da nossa economia da média europeia, vale para a tragicómica novela da TAP, para o nível de impostos que nos esmaga, para o inconcebível desfecho dos processos judiciais que envolvem os grandes e poderosos. Enfim, vale para justificar as fraquezas de quem governa. Ou as limitações dum regime que a esquerda, incluindo o PS, se recusa a reformar.

Esta atitude ganhou raízes, infiltrou-se em todos os sectores da sociedade, e é aceite com naturalidade pela maioria dos portugueses. De tal modo que perante as justificações, na presença das bem elaboradas narrativas de desculpabilização, já se tornou popular o desabafo que melhor expressa a insustentável verborreia: "Ah, pois. A culpa deve ser de D. Afonso Henriques".

É válido para o País e é válido para qualquer um dos municípios onde a população deixou os destinos da terra na mão dos socialistas. O primeiro impulso discursivo vai sempre no mesmo sentido. A culpa é de quem esteve antes. A culpa é do PSD. Quantas vezes ouvimos isto!

Ouvimos quando se fala da falta de investimento público, ouvimos quando falta iniciativa privada. Tudo o que não é agradável para os atuais titulares, tem origem naquilo que de mau foi deixado pelos antecessores. "Foi a dívida! Foi a dívida!" Ouvimos até à exaustão.

Ora se, para o País, a expressão popular que melhor retrata a situação é dizer "a culpa é de D. Afonso Henriques", aqui para a minha terra, neste concelho socialista de Machico, há todas as razões para dizermos que "a culpa é do Tristão das Damas". Sim, o segundo capitão donatário desta primeira capitania, homem de mundanas vontades que marcou a história dos primórdios do nosso povoamento.

Esse Tristão que foi o tema, este fim-de-semana, da XVI edição do Mercado Quinhentista de Machico. Figura da história local, segundo os escritos "um dos nomes pelo qual é conhecido o filho de Tristão Teixeira, navegador e primeiro donatário de Machico. Sendo o sucessor do pai, foi o segundo capitão-mor de Machico e também foi o poeta conhecido como Tristão das Damas, por ser muito cortesão e considerado grande poeta." Ainda segundo os registos parece que nunca meteu os pés em terras de Machim, tendo vivido em Lisboa onde "diligenciou festas, torneios, jogos de cavalaria e saraus de poesia".

Voilá. Está tudo dito. O problema não foi a dívida deixada pelo PSD. A culpa não é do bloqueio e inércia dos atuais governantes. Amigos. A culpa para o estado de coisas deste mui nobre concelho é, sem dúvida, do Tristão das Damas. O problema tem séculos. Machico adora celebrar, festejar, cortejar, aqueles que não deixam obra. Machico adora endeusar os que fazem festas e constroem belíssimas narrativas. Para o que está mal, a culpa é do Tristão.

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