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Artigo de Opinião

Gestora de Projetos Comunitários

8/04/2023 08:00

Os dados que sobressaem sobre a violência doméstica (além do número de mortes) são referentes ao aumento do número de pedidos de ajuda realizados por menores - em sintonia com o aumento do número de casos de violência contra os filhos. O que também não nos pode deixar indiferentes é o aumento do número de agressões perpetradas por menores.

Pergunto-me o que acontece no seio destas famílias para que tal aconteça. As relações familiares devem estar assentes no respeito pelo próximo e por amor. Cabe aos pais cuidar dos seus filhos, promovendo o seu desenvolvimento e bem-estar, na certeza de que lhes estão a transmitir os princípios, os ideais, os valores e as formas de agir que utilizarão pela vida fora. Sendo certo que as crianças devem ser livres para descobrir quem são e quem querem ser, cabe aos pais estimular essa liberdade, com amor e respeito, contribuindo, dia-a-dia, para a felicidade destas crianças em todos os aspetos das suas vidas. Como é que passamos do amor e respeito para o pesadelo da violência doméstica?

A violência [doméstica] é um crime punido pela lei portuguesa. A violência, seja física ou psicológica, viola o direito à dignidade e põe em risco a integridade física de muitos. O comportamento violento continuado, que resulte em danos físicos, emocionais ou psicológicos, é crime. A imposição de isolamento social, a subordinação, a perseguição, a chantagem, tudo aquilo que faça o outro viver em clima de medo, é crime. Em momento algum se pode assumir que a violência existe "por amor". Subjugar o outro pela ansiedade, pelo medo, não é amor.

O número total de vítimas de violência doméstica em Portugal não é conhecido. Nem todas as vítimas conseguem pedir ajuda. O silêncio fala mais alto. O medo grita muito alto. Estas pessoas, vítimas, têm medo. Medo de não chegar a amanhã. Medo de partilhar com a família ou com amigos e ser alvo do estigma social que procura justificar porque é que estas pessoas acabaram naquela situação.

É por isso importante que todos tentemos colocar-nos nos "sapatos" destas vítimas. Como é viver com medo? Será que, algum dia, ultrapassam o trauma a que foram sujeitas? E os filhos, que presenciaram todas estas agressões? Quando crescem, consideram a violência como algo normal? Vivem com medo? São pessoas felizes ou vivem o resto das suas vidas com estas sombras na memória?

Simone de Beauvoir dizia "Que o tempo cura, que a mágoa passa, que a deceção não mata. E que a vida, sempre, continua." Mas, será que continua para estas vítimas? Estamos a ser capazes de ajudar os sobreviventes a olhar em frente, sem medo? Tenho as minhas reservas sobre isso.

Um agressor não tem cara, não tem classe social, não tem um nome. Pode ser um amigo, um vizinho, um colega de trabalho. Pode ser um filho, ou um irmão. Pode até ser uma pessoa tão pacata fora das suas quatro paredes, que ninguém jamais lhe apontaria o dedo. Mas eles estão por aí.

Não duvide quando alguém lhe disser que é vítima de violência doméstica, não julgue, não culpe, não defenda o agressor - porque quem lhe conta uma coisa destas, está a lutar pela sobrevivência, com marcas que ficarão para sempre gravadas na sua mente. É essa dor e esse medo que devemos ser capazes de respeitar. Porque amanhã podemos ser nós.

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