Tive ótimos professores que ensinaram Sagrada Escritura aos alunos do Bíblico em Roma, como o notável alemão Cardeal Bea, e o italiano, mui competente professor. Cardeal Martini, arcebispo de Milão que escreveu muitos livros notáveis sobra a Bíblia, não ousou escrever uma Vida de Jesus. O mesmo se diga da célebre "École Biblique" de Jerusalém, que produziu e continua a melhorar a tradução da Bíblia em francês, para além de livros, revistas, e inúmeros artigos sobre tudo o que respeita a Bíblia, como escavações, escritos do Qumran, pedras, águas, rochas, planícies e montanhas, geografia etc. não escreveram vidas de Jesus, mas de todos os heróis bíblicos, apóstolos, profetas, sábios, uma galeria de nomes do Antigo e Novo Testamento que enriquecem bibliotecas das universidades. O povo judeu, que hoje é o que mais imprime livros em todo o mundo,não se ocupa muito do Novo Testamento, tanto mais que alguns ortodoxos ainda esperam o Messias.
Isto não significa que alguns escritores não tenham publicado livros neste sentido, até tenho vários exemplares e, o católico escritor italiano Giuseppe Ricciotti, escreveu uma "Vita di Gesù Cristo" que se tornou uma obra clássica.
O mais curioso, é que, recentemente, o escritor Andrea Tornielli escreveu uma "Vita di Gesù" com um Comentário do Papa Francisco, publicado em Milão na editora Piemme, 2022. O Papa Ratzinger, entre os anos 2007 e 2012 publicou uma trilogia "Gesù de Nazaret" como sua última obra, o escritor Andrea Tornielli, por seu lado, quis escrever um livro agradável de ler, mas não magistral.
O Papa Francisco, na sua missão de Pastor Universal convida os cristãos a ler o evangelho todos os dias, levando o livro connosco nas viagens, sem se preocupar com comentários muito complexos.
Tornielli, une numa narração o conteúdo dos quatro evangelhos, insere grandes citações, está bem informado do contexto geográfico, histórico e cultural do tempo de Jesus, sem entrar em argumentos difíceis para os leitores poderem digerir.
O Papa Francisco entra no livro, quando Tornielli cita parte das suas homilias, principalmente do que pronuncia nas suas homilias quotidianas nas missas em Santa Marta, no Vaticano. Integra também no livro o que o Papa pronuncia nas Audiências das quartas-feiras na Praça de São Pedro ou na Sala Nervi, principalmente quando o Papa aplica as palavras de Jesus à nossa vida, no campo formativo e espiritual.
A leitura do livro é agradável, tanto mais que o autor se entusiasma com a pregação de Jesus, ele mostra estar fascinado pela personalidade de Jesus Cristo, pela atualidade da sua mensagem.
Não é um livro para formar técnicos em exegese, mas cumpre uma missão, mostra que o Papa Francisco sabe aproximar-nos hoje da figura humana e divina de Jesus, é um livro para meditar e mostrar a proximidade de Jesus nos tempos em que vivemos, com guerra, falta de caridade e compaixão pelos mais pobres e excluídos da sociedade de consumo, defesa dos mais pequeninos, o Jesus que diz aos apóstolos: "Deixai vir até mim as criancinhas, porque delas é Reino dos Céus"; que se apresenta no Pai do filho pródigo, o abraço e perdoa sem perguntar que fez da sua herança; que diz à mulher apanhada em adultério e lhe pergunta : "Mulher ninguém te condenou, vai em paz e não tornes a pecar".
Entrar no caminho de Jesus, exige sempre entrar numa comunidade de vida, segundo a tradição da Igreja, o Senhor apresenta-se habitualmente rodeado de multidões ou de alguns discípulos, somente quando se afasta para orar sozinho no monte, é porque vai falar com Deus Pai e, como Moisés no deserto, implorar perdão e misericórdia por nós que somos todos necessitados de misericórdia e do sorriso de Deus Pai.