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Artigo de Opinião

Enfermeira especialista em reabilitação e mestranda em Gestão de Empresas

24/11/2025 07:35

Há acontecimentos que mudam uma vida em segundos. O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é um deles. De forma súbita e muitas vezes sem aviso, o AVC interrompe rotinas, fragiliza corpos e ameaça a autonomia. É uma urgência silenciosa, e cada minuto conta. O que se faz, ou se adia, nesses primeiros instantes pode determinar o rumo de toda uma existência.

Em Portugal, o AVC continua a ser uma das principais causas de morte e incapacidade. Em 2025, o Dia Mundial do AVC volta a lembrar-nos de algo essencial: o cérebro não espera. Os sinais: boca ao lado, fala arrastada, fraqueza num braço, exigem ação imediata. Cada segundo perdido compromete, de forma irreversível, o futuro da pessoa afetada.

Na Madeira, onde a geografia desafia a rapidez da resposta, os profissionais de saúde têm demonstrado uma notável capacidade de organização. Enfermeiros, médicos e técnicos de reabilitação mobilizam redes de atuação precoce que transformam o medo em esperança. A reabilitação começa no hospital, mas estende-se ao lar, ao dia a dia, às mãos pacientes de quem cuida e à vontade persistente de quem acredita que o corpo pode reaprender.

A Enfermagem de Reabilitação é mais do que um conjunto de técnicas: é uma prática profundamente humana. É ela que devolve à pessoa capacidades simples, mas essenciais, como alimentar-se, vestir-se ou dar os primeiros passos. Cada gesto reaprendido é mais do que uma recuperação, é um reencontro com a autonomia e a dignidade.

A tecnologia tem vindo a reforçar este processo. A inteligência artificial, os sensores vestíveis, os algoritmos preditivos e a telereabilitação permitem acompanhar utentes à distância, identificar riscos precocemente e ajustar planos terapêuticos com maior precisão. Esta evolução é especialmente importante em regiões insulares, onde o acesso a cuidados especializados pode ser mais limitado. Ainda assim, é fundamental que a tecnologia nunca afaste o contacto humano: ela deve apoiar, não substituir.

Contudo, por mais avançada que seja, nenhuma tecnologia substitui a presença humana. O toque, o olhar atento, a escuta verdadeira e a palavra certa continuam a ser as terapias mais eficazes. Cuidar é mais do que intervir: é estar. Este “estar”, silencioso e firme, sustenta o esforço de quem enfrenta um corpo em recuperação.

Na reabilitação, o vínculo entre profissional e utente transforma-se em motivação. É esta confiança que dá coragem para tentar de novo, mesmo quando o caminho parece difícil. Nela reside a força do cuidado.

Prevenir continua a ser o melhor remédio. Controlar a tensão arterial, evitar o tabaco, manter hábitos saudáveis e garantir acesso oportuno aos cuidados são decisões simples que salvam cérebros e recursos públicos.

A gestão em saúde deve enraizar-se nas pessoas e nos territórios. Ouvir comunidades, adaptar práticas e respeitar contextos locais são princípios essenciais para garantir respostas eficazes.

O AVC não é apenas uma urgência clínica: é um retrato da sociedade. Mostra-nos o valor do tempo, da empatia e da cooperação. Lembra-nos que há silêncios que exigem escuta ativa e ação determinada.

Como escreveu Albert Schweitzer: “A única vida digna de ser vivida é a que se vive a favor dos outros.”

É esta vida, paciente, comprometida e profundamente humana, que move quem cuida, quem reabilita e quem acredita, todos os dias, que cada segundo pode fazer toda a diferença.

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