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Artigo de Opinião

4/11/2025 08:00

Parece que a sanha pela extinção do Chega ainda está viva e persistente, mesmo após reiteradas demonstrações de que isso só faz aumentar o número de entrincheirados daquele partido. Eu, que sou um acérrimo (para não dizer chato) detractor das hipocrisias dos políticos, neste caso até vejo coerência: estas forças políticas, colectivas ou em prol de um propósito comum, querem a extinção do partido, não competir pelos votos. Isso seria democracia liberal, que é coisa do Diabo. Os votantes do Chega votam mal e por isso não podem ter a liberdade de o fazer. Isso da liberdade de escolha é para mim, não para os outros, parece.

Dizem, estas sumidades políticas que sabem o que é melhor para o Povo, apesar do Povo, que o Chega é um partido fascista e, como partido fascista, é inconstitucional. Vamos por fases:

Em primeiro lugar, a acusação. O Fascismo é uma ideologia política de pendor nacionalista, em que tudo deve ser controlado pelo Estado e nada pode haver contra o Estado, sob um líder autoritário e providencial. É verdade que o Chega apresenta um líder carismático que se apresenta como providencial e autoritário, tem uma clara mensagem nacionalista e, apesar de ter andado a fingir-se liberal na economia, já se confessa do lado de quem quer que o Estado controle, se não tudo, quase tudo. Também acontece que isto tudo é verdade para os regimes defendidos pelos defensores dos amanhãs que cantam, dançam e se declaram bastante patrióticos (nacionalismo?) em cartazes eleitorais. Intelectualmente, Fascismo e Socialismo foram beber à mesma fonte filosófica providenciada por Hegel (são, digamos, primos violentamente desavindos). Se Lenine, Estaline e, a exemplo caseiro, Cunhal, não foram carismáticos líderes autoritários, que se apresentavam como providenciais, não sei o que foram.

Em segundo lugar, a constitucional sentença. Que a Constituição da República Portuguesa proíbe partidos fascistas não me parece ser contestado, mas isso, para um defensor da liberdade individual como eu julgo ser, é um problema. Uma Constituição deve dar espaço a todos, seja qual for a sua ideologia, credo ou gosto musical. Uma boa Constituição protege o indivíduo do Estado, não o guia ideologicamente. A Constituição que proíbe uma ideologia não pode ser uma Constituição de Liberdade (a Liberdade é igual para todos, mesmo para os que não gostam dela).

Posto isto, além do tiro-no-pé estratégico que esta sanha intolerante representa, do autoritarismo tacanho que revela e do mau perder que exibe, este infantil furor pela ilegalização dos votos de boa parte dos portugueses força (do ponto de vista ético e moral e em nome da coerência) este libertário a defender um partido com que antipatiza. E antipatizo com o Chega exactamente por defender mais peso do Estado na minha vida, por não gostar dos famigerados cartazes e muito menos da retórica baixa que aquele partido usa. E antipatizo com as forças com muito mais autoritarismo demonstrado — cansado, até —, que o querem exercer sobre os eleitores do Chega, pelas mesmas razões pelas quais não gosto do Chega.

Não sei se o Chega é fascista, ou não, mas sei que há quem abuse desse insulto (é essa a intenção) sem sequer saber o que significa, e sei que o Chega ainda é bastante indefinido na sua ideologia; berra o que acha que não quer, mas não sabe o que quer — à excepção do bolso do contribuinte a pagar TAPs, SCUTs e demais compras de votos.

Se é para ilegalizar, ilegalizem-se todos. Nós desenrascamo-nos, prometo.

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