Recentemente, ao atravessar um jardim público, deparei-me com um grupo de cerca de uma vintena de jovens – talvez colegas de uma turma do ensino secundário - a confraternizar. Partilhavam conversa e risadas em clima amistoso e divertido. A ideia de consumo de álcool atravessou-me a mente, contudo logo a afastei, ao notar a presença de pacotes de águas minerais junto à mesa de piquenique. Fiquei feliz porque esta imagem contrastava com notícias que lera sobre a frustração e o vazio em que vivem os jovens. O artigo noticioso tivera como base um estudo no qual se revelou que muitos caem em tal sofrimento que acabam a procurar refrigério em contactos mórbidos nas redes digitais, dos quais, com o argumento de que a dor física apazigua a psicológica, recebem incitamentos a práticas agressivas em relação a outrem, ou mesmo a si próprios e, em casos extremos, até ao suicídio.
As notícias destes comportamentos são tão frequentes que acabamos por generalizar e pensar que todos alinham por esse tipo de condutas. Eu, porém, teimo em acreditar que maior parte dos jovens são equilibrados, esforçados e cumpridores, contudo o bom comportamento, a cortesia e respeito raramente são notícia.
Crises de adolescência sempre existiram, com inseguranças, busca de identidade, afirmação pessoal e desejo de aceitação pelos outros. Não há geração que escape. Sempre houve escaramuças entre jovens, troca de apelidos, amuos, preferências grupais e cochichos de maledicência entre “nós” e os “outros” - conceitos tão fluidos que depressa oscilavam e perdiam valor.
“Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és”, dizia-se. E quando os pais se apercebiam de amizades que se prenunciassem indesejáveis, se não podiam proibir, podiam pelo menos advertir e manter-se vigilantes. Hoje, ainda a aprender a gerir o bom e o mau do mundo digital, tudo parece entrar em descontrolo, já que, sem fazer alarde, cada um pode andar pelos ciber-recantos que entender e deixar-se deslumbrar por quaisquer modelos. Tanto mais preocupante por sermos animais de imitação: copiamos e almejamos o que vemos os outros fazerem e desejarem. É nesse nosso desejo mimético que a publicidade se alimenta, bem como a conquista de seguidores por parte de influenciadores digitais que, com os seus vídeos, se autopromovem como exemplos a seguir, com perspetivas de vida das mais diversas e misturando verdades e mentiras – por ignorância ou por maldade consciente. A extravagância, a idiotia e agressividade dos comportamentos e opiniões são isco com que atraem os seguidores.
Os rufias sempre existiram, contudo, o seu palco terminava quando não estavam em presença. Hoje, exibem-se em permanência nas suas publicações ‘online’ que podem ser visualizadas até à exaustão. Os seus conteúdos, ainda que falhos de quaisquer escrúpulos, podem tornar-se atraentes para jovens que, por imaturidade ou por desejo de pertença a um grupo, sintam a vontade de copiar e aderir a comportamentos lesivos e perigosos.
Quando regressei, os jovens continuavam no jardim. A maioria dividira-se por duas equipas e disputavam um improvisado jogo de vólei. Os restantes permaneciam à volta da mesa. Sorri para os meus botões, pensando que tenho razão para acreditar que os jovens saudáveis abundam o que não implica que não nos preocupemos com os outros. Aos adultos, pais e professores em especial, cabe subtil tarefa de alertar e acompanhá-los na aprendizagem conjunta sobre as novas realidades do universo digital.