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Artigo de Opinião

Administrador JM

14/01/2023 08:05

De repente, sobressaiu em cada um de nós uma vincada veia moralizadora. O que é bom sinal, sobretudo para exigir alguma moralidade no regabofe que senta à mesa do Orçamento de Estado, e das suas ramificações, uma série de génios da gestão pública que nunca ‘deram uma para a caixa’ no setor privado.

Mas não foi só o Zé Povinho a despertar para o parasitismo que grassa nalguns setores públicos (e prejudica quem se dedica à causa pública com competência e honestidade). Agora, até o Presidente Marcelo diz coisas concretas sobre falcatruas concretas, sobre as quais o primeiro-ministro António Costa também já afirmou - pasme-se! - que não se revê nem subscreve. À pressa, aí estão também um mecanismo de escrutínio e um questionário de verificação prévia para ministros e secretários de Estado. Agora é que é!

Esta mania de legislar e de alterar regras com o ‘jogo a decorrer’, em função de casos quentes mediatizados nos últimos tempos, é uma panaceia para todos os nossos males. Durará até que uma amnésia coletiva passe uma esponja no esbanjamento dos nossos impostos em esquemas que beneficiam as clientelas partidárias que se vão revezando à mesa das contas públicas, sem terem que provar porque são tão bem pagos e até tão disputados de tacho em tacho.

Infelizmente, estes ciclos repentinos de alertas para fenómenos repetitivos, como são o caso da TAP e de outros ‘cancros’ de similitude comparável, nada resolvem, apenas fazem transparecer a sensação que algo está a ser feito.

A falta de memória coletiva, a que se associa a junção da ‘lógica futebolística’ nestas coisas decididas por políticos ("o teu partido fez muito pior") permitem que tudo continue igual. Basta esperar que o tempo passe e que o Correio da Manhã não se lembre de escarrapachar em letras garrafais aquilo que todos já lemos algures.

Todos os anos os políticos têm objetivos pessoais que se sobrepõem ao interesse coletivo. Se não são legislativas nacionais, são eleições regionais; se não forem compromissos autárquicos, serão objetivos para as Europeias; depois há também corridas presidenciais a Belém. E subjacente a todo este calendário infindável de aspirações pessoais estarão sempre compromissos partidários, de pequenas e grandes tribos, de pessoas que sabem que a seguir poderá vir a sua vez. Resumindo, todo um ambiente que não favorece a tomada de decisões nem sequer esboçar a vontade de mudar o que quer que seja, porque haveria sempre danos colaterais que reduzem apoios para os tais objetivos pessoais.

Vejamos a falta de mão de obra que afeta setores importantes na Madeira, como é o caso da hotelaria e restauração, ou até a construção, situação que deveria suscitar mudanças ou pelo menos alguma vontade de contribuir com soluções alternativas. Bem pelo contrário, o comodismo dos políticos agrava a situação com medidas populistas, contraproducentes e irresponsavelmente despesistas.

Em vez de se incentivar ao trabalho e ao aproveitamento das oportunidades laborais, os políticos no ativo incentivam o laxismo, o desinteresse, o parasitismo, multiplicando os esquemas de apoios sociais que se sobrepõem uns aos outros, prejudicando quem efetivamente precisa deles a favor do arrebanhamento de simpatias que depois se transformam em votos.

Basta ver, aqui nos nossos municípios, nas nossas freguesias, quantos estabelecimentos comerciais estão sem os empregados que precisam, porque, compreensivelmente, eles optam pela esplanada a gozar a sucessão de apoios e subsídios do governo, da câmara, da junta e da casa do povo, mais o voucher, as telhas, o cimento, o colchão e sabe-se lá que mais.

Este laxismo irresponsável abarca todos: novos e menos novos. Até os estágios profissionais, que os centros de emprego fomentam com a assunção de parte importante da remuneração de jovens trabalhadores, também já lhes abre caminho aos subsídios de desemprego. Para quê lutar e tentar singrar? Sem fazer nada, é melhor e mais rentável.

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