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Artigo de Opinião

Professora Universitária

21/08/2023 07:30

A verdade, como escrevem teóricos como Marco Valbruzzi, em O Poder da Alternância, nos regimes democráticos, a alternância, ou substituição periódica dos governos pelas oposições, produzida pelo voto livre dos eleitores, é certamente o fenómeno mais importante. Na ausência de alternância, as democracias funcionam mal, a sua qualidade piora, definham. Quando todos se aperceberem que quaisquer possíveis "aproveitadores" do governo, nas palavras do estudioso, podem ser substituídos, os governantes atuais tentarão não se comportar como aproveitadores e os adversários procurarão oferecer ao eleitorado líderes competentes, dinâmicos, honestos, capazes de traduzir programas e promessas em políticas viáveis e eficazes.

Quando a alternância efetivamente se produz nos sistemas políticos das democracias contemporâneas, quem ganha é o eleitorado, porque dos seus governantes passa a exigir mais do que retórica e manobras de manutenção do poder, tendo termos de comparação. O perigo da falta de alternância está, efetivamente, num governo-fotocópia, que, quando chega aos lugares de governação, repete apenas, sem méritos particulares, fórmulas que reputa vencedoras, preocupando-se mais com o que lhe permitirá manter o poder do que em exercê-lo de forma inovadora.

A verdade é que os comportamentos e a linguagem dos políticos tendem a consolidar-se numa espécie de confortável passeio de tarde de verão quando não sentem que a oposição pode criar uma alternância. Pior. Ganham hábitos de apenas despertar a área do cérebro ligada à comunicação em público e não ao fazer. Como escreve A. Berni, há qualquer coisa numa câmara de televisão e num microfone que ativam o politiquês, aquele palavreado que faz passar por competente, trabalhador e responsável, quem só pertence a uma máquina governativa, nostálgica de si própria, enamorada da sua imagem de autoridade e domínio, confortável na certeza de que mesmo não evoluindo terá garantido o seu futuro pessoal e dos seus.

A pergunta surge natural: mas, se eu, eleitor, sei que a alternância é favorável, porque traz sangue novo, esforço maior, mais coragem para me tirar do precipício, porque não a escolho? A escritora A. Berni dá-nos a imagem dos X-Files, mas é válida qualquer cena de filmes de extraterrestres: o momento em que uma pessoa normal fica sob o efeito de uma luz intensa que vem do alto e que desfoca o que está à volta. A pessoa normal é recondicionada, habitua-se a um dialeto e acha que é melhor o mal conhecido do que o bem por conhecer. Depois, os governantes usam a luz para prometer e fazer esquecer, misturam mentiras com coerência, propõem slogans declamados, gritados, postados para consumo e recebem renovada confiança. E a pessoa normal acha natural a mutação genética dos governantes que induzem a uma perda de memória das próprias afirmações, talvez afetados eles mesmo por anos de falta de alternância, enredados entre palavras e esmolas de último minuto. E o eleitor habitua-se a achar que a luz que o encandeia é normal e vive com ela. E perdoa, porque o governo é humano como nós... mas, será mesmo como nós ou levita acima da luz?

Nós, na Madeira, somos o povo mais bondoso do mundo. Até um dia...

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