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Artigo de Opinião

Farmacêutico Especialista

23/08/2023 08:00

Deixo aqui 3 conselhos para aproveitar o vagar típico das férias, enriquecendo-as.

1.º um concerto, que pode ser só ouvido, ou com opção de vídeo, Portishead - Roseland NYC Live com a New York Philharmonica Orchestra. A banda britânica de trip-hop contando com a voz incomparável de Beth Gibbons no auge da sua carreira, transporta-nos para o urbano-depressivo, real contundente, um choro de vida real, as questões metafísicas presentes em cada palavra, o sofrimento diário de uma vida sem propósito, retrato de uma solidão dolorosa, o medo da incerteza confiado a uma vida sonhada, uma ilusão, fantasia que nos assoberba e manieta o futuro.

2.º dois livros, de dois dos meus companheiros de viagem.

Chama devoradora - John Steinbeck, um livro que foge ao habitual fio condutor de Steinbeck, pois aventura-se no que apelida de romance-peça teatral em que nos conduz através de uma estrutura interessante por um tema difícil e duro, e deambula no propósito superior que justifica os meios, ou não.

Ter e não ter - Ernest Hemingway, aqui o romance de aventuras típico de Hemingway com um retrato tão real das Florida Keys, e um drama de base banal, a luta pela sobrevivência num período de escassez, em que o retrato da beleza da vida se obscurece na crueldade mundana.

3.º três filmes - Trilogia dos Vivos - Roy Andersson.

Canções do Segundo Andar - Tu, Que vives - Um Pombo Pousou Num Ramo a Refletir Na Existência.

O lamento existencial que decorre da inevitabilidade do sofrimento no percurso, a antítese da beleza e da dor da vida, explorada magistralmente nos quadros do quotidiano.

Os quadros cénicos (muita da filmagem ocorre sobre a forma de sketch) dignos do Surrealismo de René Magritte, uma perfeição pastel, quente e confortável, belo e pacífico, mas distante, anódino, vazio, sem substância, com as personagens maquilhadas parecendo fantasmas (os da realidade como o diz Steinbeck), quadros, tão reais, tão quotidianos, tão comuns, e tão absurdos, aqui um toque de Camus -"o Absurdo é a razão lúcida que constata os seus limites" - O mito de Sísifo.

A filmagem é metódica e maioritariamente em plano estático, permitindo a observação cénica de uma peça teatral, quadros de pessoas nas suas vidas comuns, rotinas ordinárias, o absurdo da normalidade, encontrar na trivialidade mundana, a crise existencial e assistindo à sua tragédia.

Aproveitar as férias significa também reencontrar-se, ir ao seu centro, estou certo que estas 3 formas de arte ajudam nesse desígnio.

O Mundo necessita urgentemente de Paz e no mundo actual, em que somos convidados/levados a ter opinião em tudo (as redes sociais alimentam-se disso) não se esqueça do que escreveu Voltaire:

"A Paz vale ainda mais que a verdade", e como o valor do silêncio esta cada vez mais subestimado, fique com este provérbio árabe: Da Árvore do silêncio, Pende o fruto da Paz.

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