MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

6/04/2022 08:00

A Ryanair cifrou o seu investimento para iniciar a nova base operacional aérea na Madeira com dois aviões em 178 milhões de euros. Traz com ela dez rotas diretas, sendo que três delas - Dublin, Marselha e Bérgamo - correspondem a destinos completamente novos para este horário de Verão. Com apenas 350 mil lugares anuais, a Ryanair entra em grande e torna-se de imediato na terceira companhia mais relevante em termos de capacidade para a Madeira o que revela bem a facilidade com que qualquer companhia se pode impor no arquipélago com um investimento baixo. A título comparativo, para alcançar uma quota parte de mercado semelhante à da Madeira em Lisboa, Porto, Faro ou noutros destinos Europeus de lazer, a Ryanair teria de elevar a fasquia do seu investimento para outros patamares bem mais altos. Dentro das ações comerciais levadas a cabo pelas companhias aéreas quando iniciam novas rotas incluem-se parcerias com órgãos de turismo. É nesse sentido que o Turismo da Madeira em parceria com outras entidades do turismo irão implementar campanhas de promoção do destino nos canais da Ryanair e nas cidades servidas pelos voos diretos da empresa. Serão três milhões de Euros ao longo de três anos e destinam-se a cativar a atenção destes turistas potenciais para a Madeira. Outra ação comercial são as chamadas "tarifas de lançamento" com bastante disponibilidade de lugares nos voos iniciais. Várias terão sido as pessoas que se deslocaram nos primeiros voos da Ryanair por preços inferiores a 30 euros e isso explica-se por essa estratégia de marketing e de posicionamento.

O primeiro dia da Ryanair na Madeira foi marcado por dois cancelamentos e um desvio. Os voos noturnos de/para Lisboa foram cancelados à última da hora pela impossibilidade de o avião aterrar no Funchal e o voo de chegada de Londres foi desviado para Faro. Em resultado desse desvio, o voo com destino a Londres do dia seguinte atrasou 9 horas. Tudo isto resultou em passageiros frustrados, em gastos de hotel em Lisboa, na Madeira e em Faro, em mudanças de escalas de tripulantes, gastos operacionais acrescidos e em compensações para os passageiros. Tendo em conta que alguns deles estariam a voar na Ryanair pela primeira vez, que outros terão pago tarifas de lançamento ou pouco mais e considerando a atenção mediática deste tipo de operação no seu primeiro dia, estamos perante um dano reputacional e financeiro considerável para a companhia. No meio do investimento inicial realizado, este incidente operacional dilui-se, mas não se pode repetir com muita frequência porque o aeroporto da Madeira compete agora diretamente com as outras 100 bases da Ryanair por essa Europa fora.

A facilidade das operações aeroportuárias, a rentabilidade das rotas e as oportunidades de mercado inexploradas são elementos decisórios fundamentais para a Ryanair decidir como, quando e onde colocar a sua frota de 500 aviões. Esta relativa independência e flexibilidade geográfica apátrida do seu modelo de negócio é algo que veio revolucionar as relações com os parceiros operacionais e institucionais, demasiado habituados a terem "a faca e o queijo na mão" e atuarem com um absolutismo arrogante e impune. Neste contexto, é do conhecimento da ANAC - Autoridade Nacional da Aviação Civil em Lisboa - que grande parte dos problemas operacionais climatéricos do Aeroporto da Madeira ficariam resolvidos ou mitigados com a instalação de radares e do sistema LIDAR que, pela sua tecnologia moderna, garantem uma maior fiabilidade da infraestrutura aeroportuária. É do seu conhecimento há pelo menos nove anos e é também da sua competência. Relendo o relatório do Tribunal de Contas de Janeiro de 2020 sobre a atuação da ANAC no qual se arrasa o Governo que nomeia os gestores da ANAC e se acusa a administração da ANAC de conflitos de interesses e outras promiscuidades financeiras, não me restam dúvidas sobre este assunto: o Governo da Madeira não partilha a cor do Partido do Governo e este Governo, em particular o Ministro reconduzido que tutela o setor das infraestruturas, está em conflito aberto com a Ryanair, incluindo em Lisboa sobre o tema dos "slots". Para que fique escrito: se e quando a Ryanair deixar a Madeira por questões de operacionalidade, não será por culpa nem da companhia, nem do Governo Regional cujo poder de intervenção nesta matéria é muitíssimo limitado.

É caso para dizer: da ANAC no Continente nem bom vento, nem bom entendimento.

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