MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Deputado

9/07/2022 08:00

Cientistas, políticos, empresas, ONG’s e ativistas procuraram, desde vários palcos, alertar para a necessidade de uma resposta conjunta, transnacional e multissectorial, para proteger os oceanos. Eventos paralelos "ondularam" entre compromissos políticos, divulgação de projetos relacionados com a economia azul e novas apostas na rentabilização dos recursos marinhos, e até manifestações públicas, que ressalvaram um ponto crucial - o tempo é de emergência, e mais do que meros compromissos, são necessárias ações robustas, coordenadas e urgentes de defesa do oceano, baseadas na ciência e na inovação e com a participação ativa de toda a sociedade civil. É necessário transitar de planos "azuis" para ações "azuis"!

Muitos são os dados que já dispomos: os oceanos exercem um controlo fundamental sobre o clima e as condições meteorológicas, protagonizam os ciclos da água e do carbono e atenuam as oscilações de temperatura, mantendo a estabilidade da composição da atmosfera. Além disso fornecem alimento e meio de transporte para uma grande parte da população mundial. Cada gota de água que bebemos, molécula de oxigénio que respiramos ou alimento que ingerimos, associa-nos, necessariamente, aos nossos oceanos, independentemente da nossa localização no globo.

Os oceanos que hoje são afetados pelas mudanças climáticas, pela sobrepesca e pela poluição são cruciais para a economia e a cultura das populações, e são uma base determinante do desenvolvimento sustentável e do combate à pobreza.

Reconhecida toda a importância dos oceanos nas nossas vidas, é urgente agir e esperar que a adoção da Declaração de Lisboa, por unanimidade, marque a mudança da maré também ao nível da proteção dos oceanos. Foi ponto assente em toda a conferência que necessitamos de um mar vivo e saudável e que isto parte, necessariamente, de uma grande articulação entre o poder político, a ciência e a sociedade civil. Urge agora reconhecer as grandes ameaças à saúde dos oceanos, e reverter o cenário de declínio garantindo ações concretas.

Portugal, com as suas regiões autónomas, tem desafios acrescidos dada a dimensão e importância do seu espaço marítimo. A nossa Região, a par do país, tem estado "adormecida" quer para a proteção dos recursos naturais quer para o potencial da economia azul, limitando a sua atuação a uma corrente de entusiasmos, demagogias e divagações pelos mais diversos planos e documentos estratégicos.

É urgente consciencializarmo-nos que são necessárias ações imediatas que analisem as potencialidades deste setor sem nunca esquecer as limitações e pressões que daí advêm, garantindo que a adoção de políticas responsáveis, vigorosas e equilibradas possam providenciar um progresso substantivo.

Não basta se vangloriar da criação da maior área marinha da Europa, se não garantimos os meios legais de proteção, a vigilância e fiscalização dos seus recursos, acabando por se traduzir num défice de monitorização dos valores naturais destas áreas, sobretudo dos habitats e espécies de conservação prioritárias, cruciais para o bom estado ambiental.

Cada vez mais, impõe-se a necessidade de pensar a longo prazo, de apoiar a investigação científica e exploração oceanográfica, de consignar mais recursos para promover um maior conhecimento e, com ele, a criação de modelos multiterritoriais e multidisciplinares que estimulem as bases para uma fonte económica sólida e para uma efetiva proteção ambiental.

Jacques-Yves Cousteau, o mítico oceanógrafo e explorador francês, referiu: "Durante a maior parte da História, o homem teve que lutar contra a natureza para sobreviver. Neste século, começamos a perceber que, para sobreviver, devemos protegê-la". E é, efetivamente, necessário mudar mentalidades e trazer robustez à batalha das nossas vidas.

Mas não tenhamos qualquer dúvida: cabe-nos a nós dar o passo para virar a maré.

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