MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Vice-presidente da ALRAM

14/02/2023 08:00

Um dos números que não foi suficientemente valorizado foi a taxa de privação material e social severa, que pode ser traduzido como a pobreza mais extrema. Conforme explanei no primeiro artigo, cai neste âmbito, quem tiver pelo menos sete de treze dificuldades económicas que estão descritas detalhadamente nessa primeira parte.

A Madeira registou o valor mais baixo de sempre nesse indicador em 2022 (7,9%) e convergiu para a média nacional. Portanto, poderemos inferir, que as políticas do Governo Regional para erradicar os casos mais severos de pobreza estão a resultar. A conclusão não pode ser outra. Note-se que nos Açores, governado durante duas décadas e meia pelo PS, este indicador, que é objetivo e não relativo como acontece com a taxa de risco de pobreza, está próximo dos 10%, e nos anos de governação socialista chegou aos 15%.

Contrariamente à oposição, que delira com a taxa de risco de pobreza ou exclusão social por ter o valor mais alto (já lá vamos), um outro indicador, que para mim é o mais preocupante de todos, é o da intensidade laboral per capita muito reduzida. Segundo o INE, existe intensidade laboral per capita muito reduzida quando uma pessoa com menos de 65 anos vive num agregado doméstico em que os adultos entre os 18 e os 64 anos (excluem-se os estudantes dos 18 aos 24 anos; os reformados e/ou pensionistas de velhice ou invalidez; e as pessoas inativas com 60-64 anos e que vivem em agregados cuja principal fonte de rendimento são pensões), referiram ter trabalhado, em média, menos de 20% do tempo de trabalho possível.

O nível de intensidade laboral é fator determinante para um indivíduo acumular uma situação de pobreza monetária com privação material. Segundo o ICOR, temos na Região 7,9% da população nesta situação. Juntando este indicador aos lamentos de muitos empresários, parece-me que haverá uma potencial força de trabalho, que beneficia de apoios vários e que complementa estes apoios com trabalhos temporários e de muito curta duração (vulgo "biscates") preferindo permanecer nesta situação . Com a falta de mão-de-obra que aflige alguns sectores (e que não é sequer um problema específico da Região), a situação acima referida, penaliza a economia da Madeira. Por outro lado, os empresários têm também que adequar os salários à realidade económica, pois a lei de oferta e procura também se aplica ao mercado de trabalho.

A taxa de risco de pobreza ou exclusão social é, como disse, a predileta da oposição, na sua habitual ladainha sobre os dados da pobreza e que dura 365 dias do ano, à falta de outros argumentos. Refere-se aos indivíduos que estão pelo menos em uma destas situações: em risco de pobreza (aferida neste caso pela linha de pobreza nacional e não regional), vivendo em agregados com intensidade laboral per capita muito reduzida ou em situação de privação material e social severa. Os conceitos de cada uma destas situações já foram descritos anteriormente.

O valor da Madeira e dos Açores é precisamente igual, 29,6%, sendo que no caso da nossa Região, uma vez mais, os números de 2021 e 2022 são os mais baixos desde que este indicador está disponível (2018). Uma vez mais, a análise de longo prazo permite logo deduzir a evidência de que a tendência do risco de pobreza ou exclusão social na Região é decrescente. Pelo segundo ano consecutivo, a Madeira ficou abaixo dos 30%.

Note-se que o facto de que os indivíduos com risco de pobreza serem apurados pela linha de risco de pobreza nacional e não pela regional provoca maior disparidade entre as regiões. Era importante apurar este indicador por esta segunda via, para termos uma outra métrica para esta realidade.

A desigualdade na distribuição do rendimento está diretamente relacionada com as desigualdades sociais. A análise da concentração do rendimento permite compreender o grau de desigualdade das regiões. Quanto maior a concentração do rendimento maior a desigualdade. A desigualdade nas regiões pode ser medida através de dois indicadores, o coeficiente de Gini e o rácio S80/S20. O primeiro tenta sintetizar num só valor a assimetria na distribuição de rendimentos. O valor da Madeira é semelhante à média nacional, mas com tendência crescente em 2020 e 2021, o que tem explicação simples. Seja em que situação for, por mais almofadas que se criem, nas alturas de dificuldade, a população mais desfavorecida é sempre mais penalizada que a mais abastada, daí que seja natural, o agravamento do indicador. Seja como for em 2020 e 2021, a desigualdade na Região é menor que em 2017 e 2018, pelo que estamos no bom caminho, reflexo dos esforços para redução das desigualdades, pese embora alguns recuos pontuais.

O rácio S80/S20, traduz quantas vezes vale o rendimento total recebido pelos 20% da população com maiores rendimentos face ao rendimento auferido pelos 20% com menos rendimentos. Na Madeira, este rácio é de 5,3, relativamente próximo do valor nacional que é de 5,0 e em alguns anos, tal como acontece com o coeficiente de Gini, já foi mais baixo que a média do país.

Os Açores, com os seus 25 anos de socialismo que tornaram aquela região um paraíso da subsidiodependência, são, pela leitura de ambos os indicadores, a região mais desigual do país.

Esta é a interpretação que faço dos dados divulgados pelo INE e que julgo ser mais equilibrada e correta, sem histerias ou manipulações.

Quem quiser pode ir aos portais de internet do Eurostat, do INE e da DREM e confirmar se o que aqui escrevi é verdade ou não. Contra factos não há argumentos.

Independentemente disso, não se pode baixar os braços. Mas isso não significa que se deve seguir o modelo do tempo socialista nos Açores, de criar uma sociedade acomodada, de subsídio-dependentes, prejudicando a própria economia e a disponibilidade de mão-de-obra para fazê-la crescer, que é a única maneira de efetivamente termos melhores estatísticas neste domínio.

Também é importante sabermos de que ponto partimos, algo que não pode ser esquecido. Não há estatísticas desse tempo, mas qual seria a taxa de risco de pobreza e de privação material e social severa quando a Madeira se tornou Região Autónoma? Nas palavras de muitos que conheciam bem a Região era de uma miséria atroz. Salvavam-se algumas zonas do Funchal e pouco mais, com muitos obrigados a emigrar para ter uma vida minimamente decente. Não havia empregos, desenvolvimento económico, nem suporte de saúde ou de ensino minimamente adequados. Nem habitação condigna, com alguns a viverem em furnas e casebres. Pura e simplesmente, a Madeira era a região mais atrasada do país. O nosso Produto Interno Bruto por habitante em 1976 era cerca de 30% da média nacional. Em 2019 era de 97%.

Por muito que alguns queiram apagar a história, quem mudou a face da Madeira foi o PSD/M e os seus sucessivos governos. E é isso que queremos continuar a fazer.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
18/12/2025 08:00

Há uma dor estranha, quase impossível de explicar, que nasce quando alguém que amamos continua aqui... mas, aos poucos, deixa de estar. Não há funerais,...

Ver todos os artigos

88.8 RJM Rádio Jornal da Madeira RÁDIO 88.8 RJM MADEIRA

Ligue-se às Redes RJM 88.8FM

Emissão Online

Em direto

Ouvir Agora
INQUÉRITO / SONDAGEM

Concorda com a entrega do Prémio Nobel da Paz a Maria Corina Machado?

Enviar Resultados
RJM PODCASTS

Mais Lidas

Últimas