Só que o ciclo é difícil de quebrar, se não tens dinheiro para viver, muito menos tens para pagar uma viagem e sobreviver os primeiros meses sem trabalho, tens de conhecer alguém que te dê guarida e comida a início.
Noutros países mais desenvolvidos a vida é mais cara, é verdade, mas os ordenados são muito melhores.
O madeirense vai para Inglaterra, Austrália e África do Sul, entre outros países, tirando a Venezuela que já não é um destino há alguns anos.
A vida também pode ser boa na Madeira, mas é preciso alguma sorte para ter sucesso.
Para o madeirense que sempre teve dificuldades e teve de trabalhar em vez de estudar, não há perspectivas, apenas a restauração, um emprego público, construção civil ou a limpeza para muitas mulheres.
Há sempre o "self made man", mas até esse teve de ter algum capital para arriscar-se no seu próprio negócio.
Na madeira as pessoas estão mais cultas, e isso deve-se à escolarização, e aos dois jornais regionais, que são os melhores do país, em termos de abordar uma região.
A sociedade madeirense está demasiado estandardizada, é uma sociedade com classes estagnadas, em que até os novos ricos, sem sobrenome têm dificuldades em entrar.
A ilha é bonita, e as pessoas sabem receber, mas parece que o madeirense às vezes tem dificuldades em lidar com o sucesso de outro madeirense, se bem que as coisas estão melhores.
Não preciso grandes estatísticas para chegar à conclusão que somos um povo emigrante, e como diz o Eça de Queirós, quando se refere a Portugal, esta emigração é dum povo que sofre.
É verdade que isto aqui é um cantinho do céu comparado com África e alguns lugares da Ásia.
Politicamente, somos a ideologia do PSD, liberal, nos grandes sectores, e uma política de esmolas nos pequenos sectores, para assegurar o voto.
O PSD, continua a ser a maior agência de emprego da região.
Existem ainda alguns sociais democratas no PSD, mas são de direita, e a única social democracia que presta é servida pela esquerda.
O PSD, é um partido que abarca todas as ideologias, o que conta é que o partido cresça em números, e os que lá estão, na sua maioria, como em quase todos os partidos, querem servir-se do partido para progredir profissionalmente, e cumprir outros objectivos pessoais, o PSD, é um partido competitivo internamente, em que vale tudo para destruir adversários, são cantigas de escárnio e mal dizer que imperam.
Precisamos duma política construtiva, que entregue ao povo madeirense o seu futuro, que atribua responsabilidades aos cidadãos, e que torne o governo no senhor dos monopólios, em vez de os entregar a privados.
O sonho do madeirense é viver uma vida melhor, em princípio que a Madeira dê essas condições.
O sonho do madeirense é andar na rua sem que ninguém fale mal dele, é viver num sítio mais solidário, é poder viajar de férias, é poder comprar um carro melhor, é poder constituir família, é sair da casa dos pais, é ter praias públicas e gratuitas, é ter oportunidades de tirar formações, estudar e ter empregos melhores, é não pagar propinas para estudar, é pagar menos impostos, é ter um governo que sirva os seus cidadão, é ter um mercado livre mas com intervenção do Estado para atenuar as desigualdades, é ter creches, lares e transportes públicos gratuitos, para quem precisar, é votar em políticos de verdades e não caciques, é poder dar estudos aos seus filhos, é poder comer melhor, sem estar sempre olhando para o bolso, é acabar com a corrupção pública, é trabalhar menos horas, é ter mais tempo para si próprios, é viver uma vida mais descansada e em paz, é poder envelhecer sem tantas preocupações financeiras, é poder acabar com a demagogia e ver políticas de verdade que combatam a miséria e deem mais crescimento à economia, é ter mais folga para fazer a sua vida, é viver sem exploração, é ter a sua casa, é viver com preços de arrendamento justos, é pagar menos por produtos essenciais, é viajar com viagens mais baratas, entre muitas outras coisa que poderão ser ditas, mas talvez a mais importante é ter um emprego condigno e bem pago, que respeite o direito ao descanso e às férias.
Sonho com um dia em que tudo o que escrevo seja uma farsa, causada por um estado de demasiada preocupação da minha parte.
Eu sei que há uma forma de viver sem remorsos.