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Artigo de Opinião

Psicóloga Clínica

25/02/2021 08:02

Esta pergunta não é sem fundamento, pois, diariamente, chegam-me pessoas a consulta em total estado de exaustão psicológica, algumas dessas já sem vontade de viver, quase que tendo desistido de si e do mundo. Escuto, inúmeras vezes, relatos de pessoas, na sua maioria jovens adultos, que me dizem que apenas querem "desaparecer do mundo" para que, dessa forma, consigam descansar.

Todos sabemos que a conjuntura actual (e dos muitos meses passados) não facilita nem promove o bem-estar psicológico, bem pelo contrário, leva ao desespero pelo cansaço. Cansaço da pandemia, cansaço da distância, cansaço do isolamento, cansaço do trabalho (com a agravante do teletrabalho, que retira da vida de cada um a possibilidade de interação social).
Com o arrastar dos dias, as rotinas alteram-se, tornando-se vazias de bem-estar. E com tantas limitações do que se conhece como vivências humanas, as pessoas vão-se esquecendo de si. Já não se arranjam para sair de casa (não têm de o fazer), e quando saem "a máscara tapa tudo", como me diziam há dias. Mas até quando aguenta a sanidade mental de cada um sem o autocuidado? Quais são os limites que não devem ser ultrapassados? Quantas vezes esses limites são forçados ainda mais, correndo-se o risco de cair no abismo da psicopatologia? Será que não é tempo de se reflectir no valor da vida de cada um? Na importância da saúde mental?

As pessoas vão deixando para mais tarde aquilo que as faz sentirem-se mais tranquilas, mais relaxadas, pois, como muitas dizem "não tenho tempo". E se um dia forem obrigadas a ter tempo? Não será bem pior? Será que 15 minutos num dia é muito tempo, tempo esse que não se possa gastar a cuidar psicologicamente de si? Num dia, 15 minutos não significam nada, mas numa vida significam muito! É o tempo que necessitamos para nos desligarmos dos factores externos que nos consomem e pensarmos apenas em nós. É o tempo ganho em saúde e bem-estar, é o tempo necessário para nos redescobrirmos e nos reinventarmos, num mundo que parece já não ser o que construímos. 15 minutos, todos os dias, apenas um quarto de hora, vai fazer toda a diferença numa vida de correria e stress, sem tempo para nos reconhecermos mais em frente a um espelho. Sim, chega aquele dia em que, ao passarmos a correr (pelo menos os pensamentos voam) em frente a um espelho perguntamo-nos: "Quem sou eu?". E a resposta, quase automática: "Não sei. Já não sei quem sou, em quem me tornei. Reconheço este rosto, mas desconheço esta pessoa." E, nessa altura, pode acontecer a tomada de consciência: "Preciso de ajuda". Sim, nesta fase, as pessoas que se sentem perdidas necessitam de ajuda, de estratégias de autoconhecimento, mas, sobretudo, de estratégias de autocuidado.

Tudo isto é, naturalmente, evitável. Todo este sofrimento, todo o desespero do desencontro do EU é desnecessário. A explicação reside, efectivamente, no autocuidado, na higiene mental. Algo que se vai descobrindo, com o tempo e a experiência, a melhor forma de o fazer à medida que se luta para se sentir mais completo. E é nesta plenitude que se reflete o autocuidado, numa vida mais simples, mas mais preenchida emocionalmente.

Penso que este é o tempo de reflexão naquilo que cada um de nós poderá fazer por si, pois é connosco mesmos que temos de viver o resto da nossa vida. Nós somos sempre a nossa companhia, então, vamos cuidar de nós para uma vida longa e plena emocionalmente.

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