Ricardo Franco, presidente da câmara de Machico, declarava, estranhamente em tom laudatório, que este matutino se tornou indispensável na cobertura de eventos e iniciativas, rematando assim, de forma camuflada: "Diz-se mesmo que o que era antes é agora o que antes era". Ops. Julgo que, como eu, muitos ficaram a matutar no significado de tão misteriosa afirmação. E terão sido muitas as cogitações sobre o assunto, sabendo-se do que pensavam os socialistas de Machico da velha versão deste jornal. No momento da leitura, e dada a pressão mediática internacional que nos consome, a coisa ficou por descodificar.
Até porque os tempos são confusos. Compreende-se. É a crise económica sempre em ameaça, é a pandemia em vagas intermináveis, é agora a guerra que nos divide entre os partidários da paz, com sacrifício para a Ucrânia, e os partidários da justiça, com castigo para a Rússia. São tempos de estonteante informação e contrainformação. É a ansiedade de assistir pelo ecrã, ao vivo e a cores, a tamanha desumanidade.
Talvez por isso seja tranquilizante passear pelo Mercado Quinhentista de Machico que hoje termina mais uma edição, depois de um interregno de dois anos. Com o refrescante tema da água que é o "sangue da terra".
Foi isso mesmo. Passeando pelo mercado, apreciando as deleitosas antiguidades e a jovial alegria dos participantes, fomos matando a sede nessa "água fonte de vida", logo no primeiro dia. Tentando esquecer as agruras deste mundo.
Mas aquela frase não saía da cabeça. "O que era antes é agora o que antes era". O trocadilho estava a bater forte e a impedir-me de gozar todo o esplendor do mercado antigo. Lembrava-me de tempos remotos e das adivinhas que me colocavam em criança. "Branco por fora, amarelo por dentro ..." Bom! Mais um golo dessa outra "fonte de vida" até porque um enigma "água o dá, água o leva". Tema do Sábado.
E foi assim, mesmo quase chegando a "Água que nos une", tema deste domingo, e depois de algumas passagens pelas "fontes" desta feira encantadora, que uma luz finalmente destrinçou, ao meu entender, tão misteriosas palavras. Só podia ser. Eureca.
Afinal o que Ricardo Franco quis dizer, sem o assumir abertamente, é que agora o JM é o que o DN "antes era" e o DN é agora o que o JM "era antes". É isso.
Bem-visto, senhor presidente. Só que podia tê-lo dito com todas as letras. Assim poupava-nos tempo e tantas idas à "fonte" do Mercado Quinhentista. Até porque um tal elogio, em dia de aniversário, não deve ser dito com palavras gagas.
Emanuel Gomes escreve
ao domingo, de 4 em 4 semanas