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Artigo de Opinião

6/02/2021 08:05

Mais do que pela vontade popular ou pelo interesse nacional os partidos parecem reger-se por outros princípios e estratégias. Só um governo daquele jaez poderia constituir o caminho estável para as reformas de que o país carece. Enerva-me um primeiro-ministro, em claro desrespeito pelos desígnios dos eleitores, dizer: "procurar o bloco central é como caçar gambozinos" e de tal não ter havido qualquer reacção. Como me decepciona Rui Rio dizer que com uma moderaçãozita até se entende com o populismo emergente. Há alguma social-democracia que se coadune com o tal programa? Em lugar de um projecto reformista global, a empreender pelos partidos cuja matriz ideológica é mais próxima, anda-se ao sabor das manigâncias de poder do PS e do PSD e que ora reforma para a frente, ora para trás, num reformismo de coisa nenhuma, atabalhoadamente urdido conforme os apetites dos grupos de pressão que as sustentam. Veja-se o SNS. Se governa o PSD e as suas concubinas direitistas o foco será a sua descapitalização e o favorecimento da iniciativa privada, mesmo que a esta só interesse o filete lucrativo dos cuidados, deixando para o Estado as maleitas dos pobres e os cuidados terminais ou de maior complexidade. Se governa o PS e as suas passionárias esquerdinas o objectivo será a diabolização do privado, a assunção de todos os cuidados, numa generalização e universalidade de cujo recado o Estado não dá conta, envolvendo-se cinicamente em subfinanciamentos crónicos, relegando para o privado uma complementaridade que o vampiriza, agenciando no seio das suas ineficiências. Já sem falar dos corporativismos em que o Estado, refém, capitula e até fomenta, em detrimento da gestão racional e objectiva. E sem que, num caso ou noutro, resulte uma prestação eficaz e adequada dos cuidados. E andamos nisto. Este caminho, sempre a quatro anos, sem rumo ou ideal colectivo firme, tem potenciado iniquidades e contradições que geram insatisfação e revolta que engrossa as fileiras dos extremismos, sempre prontos a cavalgar o descontentamento. Veja-se a pujança de 500 mil votos numa eleição em que mais de metade dos portugueses não votou. A verdade é que não é tolerável que em todas as funções do Estado caia a mancha já crónica da corrupção. É nos governos, nas autarquias, na Justiça, que deve ser o último reduto de probidade. É escandalosa a promiscuidade entre a política e os negócios, a banca, o futebol, num país de desenrascanço sem coragem para criar mecanismos de controle do enriquecimento ilícito, dos injustificados sinais exteriores de riqueza. Onde a política em lugar de se encarar como uma função instrumental para servir o bem comum se tornou num irracional clubismo interesseiro de ascensão na pirâmide social de medíocres, incapazes e patifes. Onde as adjudicações favorecem grupos de interesse ou financiamento partidário, num emaranhado legislativo que só vai requintando a capacidade dos trapaceiros fazerem cadernos de encargos à medida, com a aparência da legalidade que sossega os espíritos formalistas das instâncias judiciárias de controlo. A justiça que não se reforma cabalmente e cuja morosidade vergonhosa eterniza conflitos e corrói a lisura da actividade negocial e a aferição atempada da legalidade da actividade da administração pública. E incontáveis exemplos desta deriva insana se poderia dar. Como diria Medina Carreira é tempo de deixar de embebedar a sociedade com tretas e atalhar extremismos.

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