Cuidar de um idoso, sobretudo quando é um familiar, é um ato profundamente humano, mas também uma das tarefas mais exigentes e silenciosamente dolorosas que alguém pode assumir. O cuidador não cuida apenas do corpo, das rotinas ou da alimentação. Ele cuida de histórias, de memórias, de fragilidades que, pouco a pouco, vão transformando aquele ser amado que antes parecia inquebrável.
Cuidar não é apenas amor. É também angústia. É ver a demência roubar, dia após dia, traços de identidade e de autonomia. É aprender a lidar com esquecimentos, alterações de humor, agressividade e, muitas vezes, com a incompreensão de quem olha de fora e não sabe o peso de estar dentro. É ser confrontado com a dor de testemunhar a mudança do seu próprio pai, mãe, marido ou esposa, que já não corresponde ao que antes conhecia.
O cuidador familiar muitas vezes esquece-se de si próprio. Vive entre consultas, medicação, higienes e rotinas, anulando pausas, renunciando ao descanso e, não raramente, ao seu próprio bem-estar emocional. O burnout surge como sombra natural: exaustão física, emocional e psicológica. É o corpo que se desgasta, a mente que se fragmenta e a alma que, tantas vezes, se sente só.
Ninguém deveria cuidar sozinho. O cuidador precisa de espaço para respirar, para se reconectar com a sua própria vida, para reencontrar energia. Apoio profissional, grupos de suporte, amigos e família são essenciais. Não se trata apenas de ajudar o idoso, trata-se também de proteger quem cuida, porque o bem-estar do cuidador é indissociável do bem-estar de quem é cuidado.
Ser cuidador é um gesto de amor e de coragem. Mas é também um desafio ético para a sociedade: não podemos continuar a depositar a responsabilidade do envelhecimento apenas sobre os ombros de quem ama. Precisamos de compreender que cuidar é uma tarefa coletiva, que exige empatia, estruturas de apoio e reconhecimento. O cuidador é, afinal, a ponte entre a fragilidade e a dignidade. E cuidar dele é cuidar de todos nós.