O Poder Local
Decorrem por estes dias diversas cerimónias de posse de autarcas que marcam o início de um novo ciclo no Poder Local.
São presidentes de Assembleia, de Câmara, de Juntas e respetivas equipas de deputados e vereadores. Há muitas caras repetidas de mandatos anteriores, há regressos e há gente que se estreia na vida pública.
Independentemente das fidelidades partidárias, da matriz ideológica que tanto une alguns como afasta outros, há algo que junta quem abraça os desafios do Poder Local: a vontade de fazer algo pela comunidade.
Independentemente de alguns desvios no caminho, é justo reconhecer que a esmagadora maioria dos autarcas vem com vontade de acrescentar. De fazer mais e melhor. De contribuir para a vida coletiva.
Muitos deles ficariam bem mais confortáveis no quentinho da sua vida. Na rotina que se mistura com a profissão. Na regularidade das suas agendas distantes dos palcos, que também podem ser arenas.
Seria bem mais fácil e cómodo ficar sentado a dar palpites do que entrar em jogo. Sobretudo quando esse jogo vem cheio de imprevisíveis e burocracias e trabalhos sem horas e audiências na rua e em qualquer lugar.
O Poder Local é um desafio valioso e nem sempre devidamente valorizado. É um nível de gestão pública que reclama um perfil diferente. Que exige proximidade, disponibilidade e conhecimento.
Ser presidente ou vereador deixou de ser, há muito, um lugar de prateleira. Muito menos é um espaço dado a improvisos, experimentalismos ou qualquer tipo de ensaios. São lugares de responsabilidade e trabalho diário, sem agenda, sem hora de entrada e muito menos de saída.
Neste início de novo ciclo, resta acreditar que os autarcas que se estreiam ou são reconduzidos cumpram aquilo que prometem no ato de posse: “Eu, abaixo-assinado, afirmo solenemente pela minha honra que cumprirei com lealdade as funções que me são confiadas.” Se o fizerem, será meio caminho andado.
As desigualdades
Também por estes dias assistimos a persistentes indicadores de desigualdade social. Mesmo em áreas onde se pensava que havia evolução, notam-se recuos.
Acontece com diferentes formas de violência doméstica, como foi notícia esta semana, na Região e no País.
Acontece com direitos e liberdades, volta e meia questionados.
Acontece com a inexplicável exclusão da Associação Nacional de Apoio à Vítima que luta, há décadas, para trabalhar na Madeira, a única Região do País onde não consegue entrar.
É estranho como algumas políticas sociais, tão na moda, tão na agenda, tão na boca de tanta gente, ainda despertam melindres tão antigos quanto inúteis e distantes da causa maior, que é fazer chegar ajuda a quem dela precisa.