Nos meus tempos de Coimbra “apresentaram-me” o Siddhartha, de Hermann Hesse. Li-o com agrado, mas não me despertou a vontade de continuar a explorar a sua bibliografia. Demasiado místico para mim, recorrendo a experiências espirituais e transcendentais como caminho para a verdade, o que pareceu um absurdo a um jovem que procurava as respostas existenciais no estudo da filosofia.
A vida seguiu, os anos passaram-se, e as leituras acumularam-se. Livros, aos milhares, que fizeram muito mais do que decorar a casa: moldaram a forma como olho o mundo.
Recentemente, nas vésperas de fazer cinquenta anos, li O Lobo das Estepes. Já estava na estante há algum tempo, comprado ao amigo Raúl, mas ainda não tinha sentido qualquer apelo em o folhear. Foi este ano, por vicissitudes várias, a maior das quais não ter nada melhor para ler. A esta altura, imaginamos que poucas coisas nos possam surpreender. Pelo menos naquilo que temos vindo a fazer toda a vida e que julgávamos dominar minimamente. Todavia, foi isso que me aconteceu. Fiquei surpreendido e arrebatado.
Em O Lobo das Estepes, Hesse retrata de forma magistral o profundo paradoxo interno que dilacera o ser humano — a luta permanente entre o impulso selvagem e a racionalidade socializada. Harry Haller, o protagonista, sente-se alienado num mundo que já não compreende, prisioneiro entre o desejo de liberdade e o peso das convenções. Contudo, Hesse propõe uma saída: reconhecer a nossa multiplicidade interior e aprender a rir da própria condição, aceitando a complexidade da vida como ela é.
Hoje, aproximando-nos das eleições de 18 de maio, é impossível não ver paralelismos entre o percurso de Haller e o momento que Portugal atravessa. Tal como o protagonista hesita entre a desistência e a reinvenção, também nós, enquanto sociedade, enfrentamos uma escolha decisiva: resignarmo-nos perante os problemas ou apostarmos, com coragem, em continuar este caminho alternativo que Montenegro iniciou. Porque não tenhamos qualquer dúvida: num momento em que a ordem mundial, as instituições e as relações e tratados comerciais internacionais, como as conhecíamos, fragmentaram-se, é essencial que Portugal se reinvente e saia do marasmo para onde o socialismo de Guterres, Sócrates e Costa nos remeteu. Temos mesmo de nos reinventar e encontrar caminhos que nos permitam seguir em direção a um futuro de desenvolvimento e progresso.
Ainda para mais, porque vivemos um momento de profunda degradação da confiança pública e desgaste das instituições. Depois da famigerada aliança entre o Partido Socialista, a extrema-esquerda e a direita radical, que levou à demissão do Governo de Montenegro, a política portuguesa precisa de um novo impulso — um impulso que valorize a estabilidade, a competência, a autenticidade e o desenvolvimento. Neste contexto, a Aliança Democrática, liderada por Luís Montenegro, é a única alternativa a si mesma, serena e determinada. Um projeto que rejeita populismos fáceis, mas também propostas de governação que sucessivamente se revelaram incapazes de proporcionar o desenvolvimento que o povo português ambiciona e merece. Um projeto que aposte na recuperação dos valores fundamentais de uma democracia madura, robusta e preparada para os desafios que se nos colocam.
À semelhança da lição que O Lobo das Estepes transmite — a de que a vida é plural, dinâmica e precisa de ser encarada com coragem — também a proposta da AD assenta na promoção de uma sociedade mais livre, mais justa e mais preparada para os desafios do presente e do futuro.
Na Região Autónoma da Madeira, exemplo de resiliência e de identidade firme, a AD apresenta candidatos profundamente ligados às aspirações da população, focados na defesa da autonomia regional, no desenvolvimento económico e na coesão social. A Madeira, tal como Hesse descreve na sua metáfora da multiplicidade interior, é o espelho de uma sociedade que não teme a diversidade, mas antes a transforma em força colectiva. Não obstante os detratores, é na Madeira que vemos, mais claramente, o sucesso da proposta política social-democrata, que progressivamente tem vindo a melhorar as condições de vida da nossa população, promovendo o crescimento da nossa economia e do rendimento das empresas, das famílias e dos cidadãos, em todos os sectores de atividade, com dívida pública controlada e onde o acesso universal a respostas de saúde e educação de qualidade são uma evidência. Há caminho a trilhar, claro que sim, mas a Madeira pode ser o farol a seguir.
Hesse escreve: “Não queiras ser apenas um homem, Harry! Aprende a ser um homem e mais alguma coisa!” Este é um conselho que também devemos seguir. Portugal merece mais. Merece líderes que não tenham medo da complexidade, que saibam rir das dificuldades e, sobretudo, que saibam construir caminhos de esperança, que nos levem, ao desenvolvimento tantas vezes adiado. Montenegro é um desses líderes. E se não o é ainda, é o único dos candidatos que tem potencial para o ser.
No próximo dia 18 de maio, cada voto conta. A oportunidade de recomeçar está nas nossas mãos.