Nas eleições presidenciais teremos todos contra Gouveia e Melo, e Gouveia e Melo contra Marcelo.
O Almirante quererá mostrar que é a antítese de Rebelo de Sousa, não procurando recuperar a imagem de Cavaco, até porque este tinha, e tem, uma ideia para o país e para a Europa, enquanto do almirante a única (pobre) ideia que se conhece é de enviar um navio que deveria estar na sucata, à aventura de perseguir um vaso de guerra de uma potencial nuclear, colocando em inútil risco os marinheiros que também jurou defender.
Gouveia e Melo ambiciona substituir no imaginário dos Portugueses o Heróico (com todas as letras) Ramalho Eanes, que congrega tantos centímetros cúbicos de dignidade (indesmentível) como de mofo político.
Não obstante essa situação, parece mais disposto a “Marcelices”, devido à irresistível tentação infra-ideológica de adorar o seu próprio umbigo e estar no centro da ação política, como foi exemplo a inenarrável pré-anuncio de candidatura a escassos três dias das legislativas.
Vitimização I
Na eleição para a mesa da Assembleia da República voltou a existir polémica, apesar de em menor escala, pois o lugar verdadeiramente relevante é o da segunda figura do Estado, e a recondução de Aguiar Branco já estava garantida pelos votos da AD, IL e de um PS já em modo institucional, depois da deriva anarco-populista do último ano. Dois deputados do CHEGA (Ch) viram chumbada a sua candidatura a vice-presidente e vice-secretário da mesa, o que originou a habitual cena de vitimização de Ventura. O problema é que desta vez, existem indícios seguros que foram mesmo deputados do Ch a não votar nos seus pares, tese corroborada por um dos visados, o decano Pacheco Amorim. Disserta-se que o ex-vice de Aguiar Branco e, principalmente, a boçalidade de Filipe Melo, recolhem antipatias na bancada chegana, o que motivaria o não apoio de parte da sua bancada. Mas, se na legislatura anterior, ninguém acreditou que os deputados da direita radical se rebelassem, e tivessem votado em branco contra a orientação do líder que anunciou apoio a Aguiar Branco, muito menos na votação de Anteontem onde era o próprio partido a estar em causa. Naturalmente que foi o próprio Ventura a instruir vários deputados para se absterem, numa tática de “fogo amigo”, de modo a fazer mais um número de vitimização. Cai quem quer.
Vitimização II
Algo parecido poderia ter acontecido em Santa Cruz, com o candidato do JPP. Filipe Sousa sai, e há uma sucessora óbvia, que alegadamente não é do agrado de quem manda. Faz-se uma sondagem, que não dá o resultado “certo”. Ou seja, a sucessora óbvia tem o dobro das intenções de voto do candidato do agrado de quem manda. Posto isto vem a presidente (que, segundo a orgânica desse partido, só é de nome, ou nem isso) alegar que na sondagem podem não ter sido auscultados apenas simpatizantes do JPP (mas querem aferir a simpatia dos munícipes , ou só os militantes do JPP é que votam?) ou dizer que os “nomes não interessam, o que importa é a continuidade do projeto”, ao mesmo tempo que se rejeita quem já lá estava e se pretende trazer alguém de fora, parece uma verdadeira anedota. Acontece que a corrente de solidariedade a Élia Ascensão, deu-lhe um capital eleitoral que dificilmente alcançaria se não tivesse sido destratada pelo seu partido. Na tal lógica de vitimização que é tão do agrado do eleitor comum. O recuo de Élvio, apontando agora Élia, quase parece um golpe à Ventura, pois tem uma vereadora que nem era vice, com uma aura que seria impossível obter se não tivesse sido rejeitada primeiramente. Mas não acredito que tivesse sido um “golpe de génio”. Tratar-se-á, apenas e só, de uma trapalhada e de tentativa de amiguismo que, por obra do acaso, acaba por sair bem. Ainda que, na fotografia, todos estejam muito mal.