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Artigo de Opinião

Economista

4/10/2025 08:00

No meio de tantas crises internacionais e numa semana em que todos os olhos estavam sobre o Médio Oriente, fez-se sentir um arrepiante silêncio a partir do Afeganistão: esta semana os talibãs decidiram desligar a internet. Às mãos de um interruptor, mergulharam o seu país ainda mais na escuridão contra a força da razão. Para um país mergulhado numa sucessão de graves crises humanitárias, decorrente de desastres naturais, terremotos e do completo retrocesso da atividade económica, este fervor fundamentalista é mais uma catástrofe que cai sobre a população. A justificação pelo “apagão”, é para prevenir o acesso da população a “imoralidades”. Num país em que as casas não podem ter janelas com vista para imóveis vizinhos e as mulheres até proibidas estão a frequentar parques ou ser salvas por homens dos escombros do recente terremoto, o conceito de “pornografia” acaba por abarcar qualquer interação humana.

As pessoas não só ficam sem acesso ao mundo: agora o mundo ficou sem acesso ao que se passa no Afeganistão. O trabalho humanitário dentro do país fica ainda mais difícil de coordenar, as transações comerciais ficam reduzidas a épocas medievais e, em mais um golpe contra o feminino, as meninas que estão proibidas de frequentar a escola para além do nível primário, ficam agora sem acesso às aulas online (ilegais, mas essenciais!).

Infelizmente, este é mais um trágico exemplo do grave efeito dos golpes autoritários de fundamentalistas: sejam eles fundamentalistas islâmicos, cristãos ou judaicos. Todos iguais na sua raiva às mulheres, na sua recusa do progresso, na invenção de “tradições” como única base identitária dos povos, e no virar de costas ao estrangeiro. Abominam a democracia parlamentar e liberal porque essa exige diálogo entre os povos, entre os géneros, entre os grupos sociais.

Este duro golpe que assolou este país tão longínquo, tem que ressoar nos nossos corações. Porque ninguém está isento de sofrer com tamanhos retrocessos civilizacionais. Também nós.

Amanhã celebramos a implantação da república em 1910. Com a extinção da monarquia hereditária, ganhou o espírito do republicanismo, a defesa das liberdades fundamentais, a promessa da igualdade perante a lei e a laicidade do estado. Curiosamente, foi há quase 100 anos que se perdeu a primeira república às mãos do golpe de estado de 28 de maio de 1926, que viria a conduzir ao Estado Novo em 1933. Perdeu-se, para posteriormente renascer das penumbras ditatoriais em 1974.

Assinalar o 5 de outubro nos dias de hoje não pode ser um exercício vazio e automático. Mediante o crescimento simultâneo da extrema-direita e da resignação de centristas colaboracionistas - veja-se a recente votação da lei dos estrangeiros, que uniu PSD/CDS, Chega e JPP - a sobrevivência da república democrática é uma defesa que deve estar presente na vida política ativa e em todos os atos eleitorais. É fundamental ter em mente que os retrocessos civilizacionais são uma das certezas ao longo do percurso da humanidade. Tal como o sol se levanta e põe, impérios nascem e caem, direitos ganham-se e desaparecem.

Na génese do 5 de outubro está o municipalismo. Curiosamente, estamos agora a uma semana de um ato eleitoral essencial no quadro da democracia portuguesa: as eleições autárquicas. Esse ato remete para o elo mais direto entre o cidadão e o político. Para além das prioridades políticas e capacidade de gestão dos candidatos, temos que saber qual o grau de compromisso dos mesmos com a democracia e seus princípios elementares; no fundo, com o futuro.

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