MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Coordenadora regional do Bloco de Esquerda

17/03/2022 08:00

Mas essa mesma solidariedade não se repetiu, não se repete em outras latitudes ou em idênticas circunstâncias, mesmo que nos batam ou morram à porta com a mesma urgência de vida e o mesmo desejo de Paz. O que distingue estas das outras mulheres e crianças? A cor da pele? A roupa que trazem no corpo? A vida num saco de plástico? Os seus governos não serem uma ameaça para o ocidente?

As mães e os pais que atravessam rios e mares com os filhos ao colo ou no ventre, ou que os mandam, sozinhos, na busca da sobrevivência são diferentes das e dos que atravessam as fronteiras terrestres a pé ou de carro? A perdição do olhar e a dor das lágrimas são diferentes? NÃO, NÃO SÃO.

Mas (há sempre um "mas"), a outra guerra é lá longe, as bombas não afectam o nosso modo de vida nem têm interesse ou cobertura mediática; as empresas precisam de vender armamento ou outra coisa qualquer e os Estados não têm interesse político em intervir. O direito internacional e os direitos humanos têm interpretações diferentes conforme a zona geográfica. Como diz o ditado: "eles são pretos (podemos substituir por árabes, argelinos, magrebinos, chineses, venezuelanos, guatemaltecos, sul americanos, indígenas, pobres, etc, etc, etc) que se matem".

Até na terminologia que se usa para o acolhimento se sente o preconceito, para não falar nas condições. Para uns serão centros de acolhimento para outros centros de refugiados ou de detenção, há muito permanentes e sem fim ou solução à vista. Para estes todas as portas se fecham.

Pela primeira vez, o ocidente, a Europa e os europeus vêm a guerra na TV do ponto de vista do invadido e não do invasor. E sentem-se invadidos e agredidos também. O choque e o sentimento de injustiça ou até de ódio pelo agressor são maiores por causa disso? A solidariedade é maior por causa disso? A guerra, a destruição, a morte de um pai ou de um(a) adolescente é diferente? é pior por causa disso? Afinal é uma questão de perspectiva?

As mulheres e crianças iraquianas ou sírias que o digam quando fugiram, ou não, das bombas do ocidente que lhes caíram em cima. Ou mesmo os homens de todas as idades a quem colocaram uma arma na mão para lutar pela sua vida e da sua família, pela sua casa, pela sua cidade, pelo seu país, ou até por causas de outros e que desconheciam.

E o que dizer ao povo russo que vive subjugado por um tirano, fruto de uma polícia política que apenas conhece a missão e para quem todos os valores são redundantes, indiferente aos seus e aos outros? Todos os tiranos são narcisistas e têm sede de poder. Mas não nos iludamos, um homem destes não se faz só. Rodeia-se de gente de confiança e cresce, ganha amplitude com a "vista grossa" e os interesses, sobretudo financeiros, de muitos. E neste capítulo, os ocidentais, os europeus, a Europa têm uma culpa imensa. Porque fazer dinheiro foi/é bem mais importante do que a ética, a vida e a dignidade humanas.

Por estes dias, na catadupa de notícias sobre a Ucrânia que nos ocupam as vidas e apertam o coração, retive a seguinte expressão de uma família portuguesa que abriu as portas de sua casa a uma família ucraniana: "Uma pessoa que perdeu tudo não mete medo. Mais medo tem ela de nós."

Que possamos todos ter esse mesmo sentir quando refugiados de outras paragens nos implorarem por ajuda. Afinal somos "todos diferentes, todos iguais".

OPINIÃO EM DESTAQUE

88.8 RJM Rádio Jornal da Madeira RÁDIO 88.8 RJM MADEIRA

Ligue-se às Redes RJM 88.8FM

Emissão Online

Em direto

Ouvir Agora
INQUÉRITO / SONDAGEM

Concorda que Portugal deve “pagar custos” da escravatura e dos crimes coloniais?

Enviar Resultados

Mais Lidas

Últimas