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Artigo de Opinião

Investigador na área da Educação

31/03/2025 07:35

Portugal volta a estar “mergulhado” em períodos eleitorais, uns que se concluem, outros que se iniciam. Momentos, onde a liturgia desses tempos implica, sempre, a ação dos partidos e a apresentação de propostas para a governação. Na realidade, o nosso sistema encontra-se, fruto de receios do regresso a um passado de “partido único” (Estado Novo), enclausurado no monopólio partidário dando a este a liderança na condução da política e na governação do país.

Ora, integrando aquilo que é comum considerar-se de “democracia da terceira vaga” (S. Huntington), a bem de ver, estamos chegados a um período onde os partidos são cada vez mais ideologicamente flexíveis e organizacionalmente menos densos, resultando num enraizamento social mais fraco. Paralelamente, os partidos estão cada vez mais focados na imagem e no flash mediático, apostados sobretudo na construção carismática do líder do momento.

Mas, a verdade é que Democracia é um regime da complexidade. Sendo representativa, assenta no ideal de que a “ponte” que liga os cidadãos à governação, radica nos partidos e, nestes, os eleitores delegam, através dos seus representantes, a afirmação soberana do poder político e com isto a governação do Estado.

Todavia, não pode perder-se o foco primacial. Democracia é em si poder existir a discordância e o dever de proteger a diversidade e a diferença. Desígnios que patrocinam a heterogeneidade. Aliás, será este intento que permitirá privilegiar, na gestão desta complexidade, o objetivo sublime de entender coletivamente que só assim se protege a Democracia e se evitam os anquilosamentos, que levam à atrofia, ao definhamento e à sua autolimitação. Concomitantemente, preservá-la da embófia e da empáfia que períodos conturbados e tensos, onde se discutem os formalismos e as minudências, em detrimento do substancial e do interesse coletivo, devia tornar-se primacial, escrutinável e exigido pelos cidadãos, em lugar de estes se deixarem “levar” pelo fugaz, pelo efémero, das promessas “fáceis” e vãs.

Ora, aquilo que os efeitos da pandemia, associada à Covid -19, que assolou o planeta, trouxe às Democracias é que estas precisam de se metamorfosear (metáfora feliz de E. Morin). Não só porque os efeitos pandémicos das desigualdades sociais e económicas, da precariedade laboral, dos baixos rendimentos do trabalho, da inflação, da guerra, da ausência da ética no exercício da política, da (in)sustentabilidade da segurança social e das expetativas das reformas a médio/longo prazo, da crise habitacional, etc., estão longe sequer de atenuados; como a estes se vão “aliar” as dimensões, particularmente exponenciais, de natureza ecológica e ambiental -que, infelizmente, pelos motivos de catástrofe, vamos diariamente assistindo e que muitas lideranças mundiais tendem a desvalorizar, com as consequências nefastas que inexoravelmente vamos sentir.

Urge, então, introduzir mudanças.

A quem nos governa, e quer governar, mais do que discurso -que, não obstante, neste período é crucial e deve ser claro, objetivo e verdadeiro, impõe-se uma ação e capacidade próprias, mas também próximas, de formação da vontade política de mudar.

Novas ideias, experiências, perspetivas e ações descentralizadas devem ser apresentadas e escrutinadas. Colocadas no lugar do vetusto sentido burocrático, muitas vezes centralizador do pensar e do agir, tradicionalmente reservado a alguns, que esgotado, já não se revela adequado e pode mesmo tornar-se inoperante. Envolver os cidadãos, chamá-los à vida quotidiana, trazer os melhores e mais capazes, fazê-los sentir, de novo, o valor do reconhecimento do mérito e da importância de participarem e estarem presentes nas soluções, para as quais a nossa vida cívica e comunitária é hoje inapelavelmente interpelada.

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