Os efeitos da pandemia, que continuam imprevisíveis e incontroláveis, são suficientemente graves para perdermos tempo com detalhes insignificantes. No entanto, é difícil ficar imperturbável face a comportamentos e reações que contrariam o bom senso, o respeito e o dever de cumprimento de regras. Mais grave ainda é quando se cometem ilegalidades e distorções grotescas.

Os sucessivos episódios que foram sendo denunciados no nosso País - o que levou, seguramente, à ocultação de muitos outros - são uma mancha numa Nação que já estava suficiente e tristemente sinalizada pelos azares, chamemos-lhe assim, que a catapultaram para o primeiro lugar do ranking das infeções covid-19, ao nível internacional.

Assistimos a estes abusos nas várias ‘filas’ de vacinação. Sem vergonha, sem respeito, houve gente a usurpar funções, mandando incluir familiares e amigos nas listas de prioridades. Para atingir a mesma finalidade, houve também outras formas engenhosas de lá chegar. Rica criatividade!

Esses abusos caracterizam também uma certa ‘casta’ que, alcandorada em vários postos-chave da administração pública, fruto de uma determinada conjuntura política demasiado prolongada e facilitadora ao nível nacional, se dão ao luxo de prevaricar sem olhar para o lado. Parece-lhes que passar por cima ou pelos lados é um ‘direito’ que têm. Aqui na Região, pelos mesmos motivos, o fenómeno não é tão grave porque o mesmo enquadramento político-partidário não vingou ainda, mas aqui e ali já se viram detalhes do que estaria para vir se isso acontecesse. O que não significa que outras ‘castas’, com outro enquadramento político por cá, não tenham outros vícios. Sim, têm. Mas como se trata de um ‘regime’ que já viveu ciclos altos e baixos, com vários tipos de vigilância, há uma menor propensão para os abusos verificados com as ‘filas’ de vacinação.

Este fenómeno teve também o condão de mostrar o lado oposto. Tão oposto que redundou em desequilíbrios tão ou mais graves. Vir a público acenar com uma suposta humildade, recusando ser vacinado quando as funções assim o aconselham, é também condenável. Não apenas para esses supostos ‘heróis’, mas pelos malefícios que possam transferir-se para terceiros.

P.S.: E o que dizer do ‘batalhão de pessoas’ que se amontoou ontem, na Secretaria Regional da Saúde, para anunciar o plano de vacinação na Região? Numa sala de espetáculos muito maior caberiam apenas cinco pessoas…