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Artigo de Opinião

CULTURAS GLOBAIS E CRIATIVIDADE

8/11/2021 08:00

É vislumbrável que vivemos numa sociedade e num tempo que busca os resultados rápidos, é tudo para agora, para ontem. O pensamento político, social, individual é muito vocacionado para o curto-prazo. O sistema liberal, económico e capitalista assenta no crescimento constante e isso implica não parar, não pensar muito, há que carburar. A própria psicologia e filosofia actual remetem-nos para o não pensar muito no futuro, traz ansiedade, traz a necessidade de reflexão para a qual não temos tempo. Está na moda dizer "um dia de cada vez". Nunca consegui viver dois dias de cada vez, mas percebo a ideia. O essencial é "não stressar" no meio do "stress".

Recentemente a Madeira foi pela 8ª vez considerada o melhor destino insular da Europa, a Madeira está na moda, talvez o fenómeno de turismo de massas se esteja já a vislumbrar. O nosso Presidente referiu que Agosto último foi o melhor de sempre. Influencers, fotógrafos, actores, actrizes, etc vêm para a Ilha pousar junto a um caxo de bananas ou num Catamaran ao pôr do Sol. Está-se bem na Madeira. É chique a valer!

E o nosso futuro como será? Que Ilha teremos em 2100? Continuaremos na moda ou olharemos para trás com arrependimento que só aproveitamos a onda e não tivemos visão mais alargada, visão de futuro? Que ignorâncias nos apontarão as futuras gerações? Iremos ao Pico Ruivo de drone? Robots estarão à entrada do novo Hospital para nos fazer a triagem? Iremos visitar as ruínas do Madeira Shopping e tirar selfies? A Laurissilva terá resistido? Algum chefe terá inventado a gloriosa pizza de banana com carne vinho e alhos? Como estará o turismo? Como estará a vida na Ilha? Ainda haverá levadas e zonas rurais ou será tudo moderno e tecnológico? Haverá um MacDrive no Arco de São Jorge e um Dubai de Santana com imóveis de luxo a caminho do Pico das Pedras? Vamos poder "casar" com a inteligência artificial e algoritmos? Estará na moda as festas de divórcio com montes de amigos, djs e copos no Reids Palace?

Este "gajo" não deve estar bom da cabeça, poderão dizer. Poderão até estranhar estas perguntas e preocupação com o futuro da Ilha, mas para mim é claro como água que precisamos fazer essa reflexão quanto antes. Não tenho a bola de cristal, nem nenhum místico amigo que consiga prever o futuro. Respostas não tenho, tenho perguntas e inquietações porque quero muito que as nossas futuras gerações possam se orgulhar como nós nos orgulhamos da nossa Ilha. A Ilha é falada e referida mundo-além como um destino em voga e a explosão já se vai sentindo. Às vezes, depois da explosão fica tudo queimado. O que poderemos fazer para o evitar, para que em lugar do imediato possa haver uma longevidade na excelência e no genuíno que há no destino Madeira? Seremos abalroados por forasteiros e a Ilha transformar-se-á mais lugar de turistas ou o Madeirense ainda terá lugar e dignidade para viver na sua Ilha?

Bem sei que ainda estamos a acordar e a nos reerguer do que aconteceu recentemente, o Covid-19 começa a parecer uma montanha dobrada embora ainda não tenha acabado. É por cheirar a mudança e a um novo tempo que também talvez seja hora de começarmos a projectar o futuro. A História muitas vezes toma rumos inesperados, mas também cabe aos protagonistas actuais, desde autoridades, cidadãos e afins, agir para que ao menos a consciência de que o melhor foi tentado possa persistir. Reflectir sobre o nosso futuro e o que deixaremos às próximas gerações é um bom exercício que espero que possamos fazer.

Boas reflexões.

Até…

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