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Artigo de Opinião

4/12/2025 08:00

Vem aí uma greve geral, diz-se pelos noticiários. Parece que o governo do país quer estragar a vida a quem já tem emprego, de propósito e com requintes de malvadez. Defendem-se os diabólicos governantes com a fluidez do mercado de trabalho, o que favoreceria a entrada dos jovens no mercado de trabalho, por exemplo. Mas esses podem bem ficar a viver de subsídios e da ajuda da avó, que até reivindica aumentos na reforma para poder fazê-lo com maior generosidade. Que eles arranjem emprego é secundário.

Haverá greve geral se o governo não for intransigente, atenção, e não ceder até ao ponto de que não transigem os sindicatos. A transigência dos sindicatos é tal que já antes de começar a negociar já tinham marcado a greve geral. Fez-me lembrar o amigo do alheio que, numa rua escura do Porto, me apresentou requerimento oral para que lhe entregasse o conteúdo monetário dos meus bolsos, jurando que não fazia mais do que pedir-me por favor, mas fazendo-me saber de antemão que tinha uma arma no bolso, não fosse eu armar-me em intransigente.

A verdade é que a exemplar “transigência” dos sindicatos é perfeitamente justificável. Uma das uniões de sindicatos tende a pretender que todos os trabalhadores se abriguem debaixo de um só empregador: o Estado. Nunca assinarão nada que não leve à extinção desse terrível sacripantas que é o patrão por conta própria. O Estado não despede ninguém e eventualmente, uma vez esgotados os cofres, alimenta o trabalhador a senhas; só vantagens. Já a outra união sindical sabe que o empresário é sempre alguém de maus fígados, que só não baixa os salários que paga até o zero porque o Estado não deixa. Também sabe que, em competição pela mão-de-obra, os vis patrões pagam ainda menos. Isso das leis de mercado é um monte de balelas, não é? Basta que imaginemos, como cantou John Lennon. Não, não é uma greve política. Juro.

Falando a sério (a sério! Acreditem!), o que é preciso é manter tudo como está. Portugal é um portento económico onde chovem milionários a cada esquina (de preferência algemados — isto de os deixar à solta é perigoso para a mediocridade geral exigida), um paraíso terreno onde é mais fácil singrar na vida do que descascar uma banana. Ou isso, ou faz parte do incomensurável charme da nação esta ineficiência geral. Ainda não me decidi.Quanto a mim, reles trabalhador por conta de outrem, no dia da mui desejada greve geral, com a sua indubitável transigência absoluta, vou trabalhar. Vou praguejar o meu empregador, claro, por me pagar acima do ordenado mínimo (sacripantas!), por me oferecer formação (gatunos!) e me tratar bem no geral, ainda por cima voluntariamente (a lata!). É que assim fico com menos argumentos para poder pedir a morte ao patrão... São diabolicamente maquiavélicos, os canalhas.

Vou festejar, nesse dia, mas apenas o meu aniversário. Não posso festejar andarem por aí governantes a querer mudar as coisas, ou a tornar seja lá o que for mais eficiente ou ágil.

Mudei de ideias. Afinal não vou celebrar o meu aniversário: obriga-me a mudar a idade e isso parece-me motivo para greve. Vou fazer greve ao meu aniversário. Recuso-me a andar para a frente.

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