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Artigo de Opinião

4/12/2021 08:01

A citação do Padre Manuel Antunes que usei em jeito de introdução, provém de um curto (mas interessantíssimo) texto intitulado «O Homem-Espuma», que foi publicado originalmente na revista Brotéria, em 1971. Já há cinquenta anos, constatava uma crescente superficialidade, ligeireza, falta de densidade humana e social.

Nos anos mais recentes, assistimos ao crescimento fulgurante, em Portugal, de uma neo-tradição (passe a contradição) importada dos Estados Unidos da América: a «Black Friday». Assinala-se na primeira sexta-feira depois da celebração de um dos mais importantes feriados nos EUA, o «Thanksgiving», ou Dia de Ação de Graças e abre oficiosamente a época de compras do Natal. Não há dúvidas de que este é um dos dias do ano em que mais compras se fazem no mundo inteiro e em que, invariavelmente, se acaba falar de consumismo, materialismo e, por arrasto, crise de valores da sociedade. Mas será mesmo assim?

Esta é uma preocupação que, regularmente, aparece como transversal em vários estudos de sociedades diferentes: Nota-se uma perceção (errada) de que o resto da sociedade é maioritariamente individualista, egoísta e irresponsável. Por isso, gradualmente, em vez de se unirem a quem quer construir uma sociedade mais justa e mais livre (independentemente do projeto político que preferirem) há muitas pessoas que se desligam da sociedade, resignam-se, tornam-se mais individualistas e superficiais, em vez de atentas e participativas.

Um exemplo desta quase anomia é a falta de discussão séria em torno do modelo económico que queremos para fazer crescer a Região e o País. Por exemplo, esta quinta-feira foi anunciada a subida do salário mínimo para 705 euros, o que penso ser uma boa notícia para a economia.

Por um lado, por pressionar em alta outros salários, as pensões mais baixas ou, espera-se, os salários de profissões especializadas. Por outro, e por paradoxal que pareça, o aumento nos salários, não é um obstáculo à criação de emprego, nem perturbará demasiado os negócios das empresas mais produtivas do País, bem pelo contrário. Ao afastar-nos de um modelo baseado em mão-de-obra barata, empurra-nos, enquanto sociedade, para modelos de maior valor acrescentado, para uma melhor organização empresarial, para o investimento na inovação tecnológica, na educação e na qualificação.

Ao contrário do que poderia parecer, foi o facto de a Grã-Bretanha (principalmente a Inglaterra) ter salários mais altos do que a Europa Continental, que fomentou a inovação tecnológica do Século XVIII que originou a chamada Revolução Industrial, e não o contrário.

É para este modelo que devemos caminhar. Em privado, queremos ser melhores e todos o sabemos. Veja-se os top de vendas no fim-de-semana Black Friday/Cyber Monday: Tecnologia pessoal, educação e cultura.

Ou seja, individualmente, sabemos bem a que aspiramos. Falta apenas transpor essa determinação para o que ambicionamos enquanto sociedade.

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