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Artigo de Opinião

Vogal da Delegação Regional da Madeira da Ordem dos Psicólogos Portugueses

9/12/2021 08:15

A saúde mental desempenha um papel fulcral no desenvolvimento global e na integração social de qualquer pessoa, independentemente da faixa etária e dos desafios que enfrenta, seja na sala de aula ou no local de trabalho, na família ou na comunidade.

Todos sabemos que a situação que actualmente vivemos é promotora de ansiedade, depressão e outras perturbações psicológicas. Inúmeras evidências mostram o forte impacto que a situação que vivemos tem e terá na saúde mental da população mundial.

Ouvimos esses estudos e concordamos com os comentários e análises feitas por especialistas, transmitidas pela comunicação social. Parece inquestionável, afirmado por todos, incluindo por aqueles que estando em cargos públicos têm poder para tomar decisões e transformar o discurso em medidas concretas.

Mas, na prática, essa importância, declarada e afirmada é priorizada e traduzida em ações?

Tal como o indivíduo só muda o comportamento quando reconhece essa necessidade, quando assume que o comportamento anterior é um problema, que tem um impacto negativo em si ou nos outros, também o mesmo parece ocorrer com as orientações e medidas implementadas a nível político e social. Só há um esforço de mudança quando há uma real interiorização da mais-valia dessa mudança. De resto, a própria OMS refere que, apesar da saúde mental ter atraído mais atenção global nos últimos anos, não recebeu investimentos proporcionais. No fundo, o que falta para que a palavra se traduza em ação?

Até porque falar de saúde mental não é só falar de doença mental. Para prevenir a doença mental, digamos o "fim da linha", é fundamental uma intervenção integrada com medidas implementadas em diversos sectores, desde a prevenção e intervenção sobre os riscos psicossociais nos locais de trabalho, até à promoção da intervenção precoce na infância e ao combate à exclusão social. E sobretudo assumindo esta área como uma prioridade reconhecida, merecedora de um esforço real, contínuo e integrado, que só é possível com a alocação de recursos dignos e proporcionais. Mas é também pensarmos na nossa sensibilidade como indivíduos e na forma como encaramos as questões de saúde mental, pois ainda não é raro as perturbações psicológicas serem classificadas de "pieguices" ou até mesmo falta de "força" ou de carácter.

Digamos que, da mesma forma que, quando partimos uma perna, é preciso tempo para a regeneração, respeitamos o gesso, o período de imobilidade e até fazemos fisioterapia para recuperar a força muscular perdida, preocupamo-nos sobre a evolução e aceitamos ajuda para uma recuperação mais célere, também quando vivemos situações emocionalmente intensas e até problemáticas precisamos de percorrer um fazer de recuperação. É por isso que, por exemplo, aconselhar a "ser forte", a "não chorar", a "ter mais força de vontade" é semelhante a dizer "corre e salta em cima da perna partida e que ainda está em recuperação", porque é preciso ter "força de vontade".

A boa notícia é que a evidência científica demonstra a relação custo-efetiva da intervenção psicológica que, comprovadamente, permite não só aliviar o sofrimento, prevenir a eclosão ou agravamento das perturbações do foro psicológico, mas também reduzir os custos com a saúde e contribuir para a diminuição do impacto do "estar doente" a nível pessoal, mas também económico e social. Ou seja, é um investimento com retorno, incluindo económico.

O sucesso de uma sociedade, comunidade, é expresso na saúde, no bem-estar e na qualidade de vida da sua população. Quando negligenciamos a saúde psicológica, negligenciamos a pessoa, e sem ela o mundo não avança. O bem-estar individual é fundamental para o bem-estar social, que todos valorizamos e de que todos beneficiamos. A verdadeira empatia não está no que dizemos, no discurso "bonito", mas no que compreendemos para transformar, posteriormente, numa acção concertada, consistente e contínua! E será que compreendemos?

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