António Costa tem toda a legitimidade para abordar qualquer área da sua governação. Em ambiente densamente tecnológico, interessou-se pela experiência de sucesso da Madeira a cativar os chamados ‘nómadas digitais’; ou seja, os profissionais que, dependendo apenas dos meios tecnológicos, trabalham em qualquer parte do mundo. Como geralmente são bem pagos, esses profissionais enquadram-se no tipo de investimento que interessa a qualquer região.
Em contraponto, o primeiro-ministro apressou-se a revelar que "provavelmente os Vistos Gold já cumpriram a sua função’, estando em curso uma avaliação que pode levar à extinção daquele mecanismo de incentivo ao investimento estrangeiro, designadamente na área imobiliária.
A precipitação e a grande dose de irresponsabilidade de António Costa, neste caso, podem ter repercussões devastadoras no setor imobiliário das regiões autónomas, principalmente. É verdade que se trata de um cenário em ponderação, que ainda nem sequer foi legislado, mas depois de ouvir um primeiro-ministro ameaçar com o fim dos Vistos Gold, qual o investidor que arriscará avançar para uma operação desse género?
António Costa deixou-se embalar por posições de pequenos grupos da nossa sociedade que, despreocupados em relação à necessidade de termos empresas e empresários que geram emprego e riqueza, manifestam a sua aversão a tudo o que é investimento estrangeiro. Confundem, provavelmente, as atividades ilícitas que existem e que devem ser enfrentadas como tal, pelas autoridades competentes quando essas se dignam fazer o seu trabalho.
Irresponsavelmente, o primeiro-ministro esqueceu-se que há apenas dez meses alterou a filosofia dos Vistos Gold, suspendendo-os das centralidades Lisboa e Porto, e canalizando-os para as outras regiões do País que ainda não tinham beneficiado dos méritos desse incentivo. Nomeadamente as regiões autónomas.
Apenas dez meses depois, com projetos e investimentos em curso (e que não se ficam por dez meses), visando a janela de oportunidade que foi criada, as regiões autónomas são ameaçadas com o fim dos Vistos Gold.
Quem se responsabilizará pelos projetos e investimentos que, após receberem luz verde, são confrontados agora com um ‘soco no estômago’ disferido pelo próprio primeiro-ministro? Quantos empreendimentos poderão ter de ‘travar a fundo’, fruto da instabilidade no mercado gerada pelo Governo da República.
Como já foi escrito, o primeiro-ministro António Costa tem toda a legitimidade para debruçar-se sobre as áreas de governação que são da sua direta jurisdição. Não pode é fazê-lo ‘em cima do joelho’, na sequência de um impulso qualquer.